sábado, 28 de abril de 2012

Esquadrinhe a Bíblia com Oração



Considerando a Relação entre a Oração e o Estudo da Bíblia
                                                                                           John Piper
A fim de entendermos a Palavra de Deus, nos deleitarmos nela e sermos mudados do íntimo para o exterior, temos de orar: “Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei” (Salmos 119.18). Mas, quando oramos para que os olhos vejam, nossa mente não deve permanecer neutra. Não suponha que a indispensabilidade da oração implica a dispensabilidade de pensamentos focalizados na Palavra de Deus. Quando você ora para que veja a glória de Cristo, não permita que sua mente vagueie e flutue. Esse é um grande erro proveniente da espiritualidade oriental, e não das Escrituras.
Então, o que você deve fazer?


1. Ore e leia

Leia a Palavra! Que privilégio! E que obrigação! E que potencial para ver a glória de Deus! Considere Efésios 3.3-4: “Segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo”. Quando ledes! Deus quis que os maiores mistérios da vida sejam revelados por meio da leitura.
Sim, Efésios 1.16-18 mostra a importância da oração (“não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, para que… iluminados os olhos do vosso coração”). Mas a oração não pode substituir a leitura. A oração pode transformar a leitura em percepção. No entanto, se não lermos, não teremos percepções. O Espírito Santo foi enviado para glorificar a Jesus. E a glória de Jesus é revelada na Palavra. Portanto, leia.

2. Ore e estude

2 Timóteo 2.15: “Procura (ou estuda para) apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. Deus nos deu um livro a respeito dEle mesmo, não para que o leiamos de qualquer maneira negligente que desejarmos. Paulo diz: “Procura [estuda para]…” manejar “bem a palavra da verdade”. Isso significa trabalhe na Palavra, se você deseja obter o máximo dela.
O pêndulo balança para lá e para cá. Alguns dizem: “Ore e não dependa de obras de estudo humanas e naturais”. Outros dizem: “Estude porque Deus não lhe revelará o significado de um texto por meio da oração”. Mas não achamos esta dicotomia na Bíblia. Temos de estudar e manejar corretamente a Palavra de Deus; e temos de orar, pois, do contrário, não veremos na Palavra aquilo que é essencial, a glória de Deus na face de Cristo (2 Coríntios 4.4, 6).
Benjamin Warfield, um grande estudioso da Bíblia, escreveu em 1911: “Às vezes, ouvimos alguém dizer que dez minutos de joelhos lhe darão um discernimento mais profundo, mais verdadeiro e mais produtivo a respeito de Deus do que dez horas de estudo em seus livros. ‘O quê?’ — essa é a ação apropriada — ‘dez minutos de joelhos, mais do que dez horas de estudo?’” (“The Religious Life of Theological Students”, em The Princeton Theology, editado por Mark Noll, Grand Rapids: Baker Book House, 1983, p. 263).

3. Ore e esquadrinhe

Ao aproximar-nos da Bíblia, devemos fazê-lo como um avarento que está à procura de ouro ou como uma noiva que perdeu seu anel de compromisso em algum lugar de sua casa. Ela esquadrinha a casa. Essa é a maneira como buscamos a Deus na Bíblia.
Se clamares por inteligência,
e por entendimento alçares a voz,
se buscares a sabedoria como a prata
e como a tesouros escondidos a procurares,
então, entenderás o temor do SENHOR
e acharás o conhecimento de Deus.
Provérbios 2.3-5
Busque como se buscasse a prata; procure como a tesouros escondidos. Isto é esquadrinhar a Bíblia para achar tudo o que é valioso. Se há tesouros escondidos, procure-os. Deus determinou que os dará a todos os que buscarem de todo o coração (Jeremias 29.13).

4. Ore e medite

Em 2 Timóteo 2.7, Paulo mostrou a Timóteo como este deveria ler sua carta: “Pondera o que acabo de dizer, porque o Senhor te dará compreensão em todas as coisas”. Sim, o Senhor dá compreensão, mas não sem reflexão. Não substitua o meditar pelo orar. Medite ore. Leia, estude, esquadrinhe e pense. Mas tudo isso será inútil sem oração.
Portanto, vimos novamente: a oração é indispensável, se queremos ver a glória de Deus na Palavra de Deus. Mas vimos, igualmente, que ler, estudar, esquadrinhar e meditar a Palavra também é necessário. Deus ordenou que a obra de abrir os nossos olhos, realizada pelo Espírito Santo,sempre seja combinada com a obra de informar a mente, realizada pela sua Palavra. O alvo de Deus é que vejamos e reflitamos a sua glória. Por isso, Ele abre nossos olhos, quando contemplamos a glória dEle em sua Palavra.
Então… leia, estude, esquadrinhe, medite — e ore! “Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei” (Salmos 119.18).

(in PIPER, John. Provai e Vede. Editora Fiel: 2008, 1.ed)

sexta-feira, 27 de abril de 2012

A atividade e a missão da Palavra de Deus


"Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei."  (Isaías 55:10-11)


Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam. A Palavra salvadora de Deus é como a chuva que cai universalmente sobre a terra e faz crescer as plantas por toda a parte. Existe a chuva divina que produz o crescimento divino de vidas transformadas. No Oriente Próximo, com sua sequidão notória, a chuva é algo miraculoso, pois da terra seca medra rapidamente a vegetação, quando chove. Então começa o ciclo agrícola; há chuva, as sementes germinam; a vida vegetal produz as sementes; há alimentos para todos; aparece vida abundante. Nas religiões da natureza, nos países do Oriente, a chuva era considerada o principal dom dos deuses. Não precisamos compreender grande coisa sobre os processos da natureza para saber que algo maravilhoso acontece com o início das chuvas. Os homens e os animais recebem o suficiente quando as chuvas chegam. Então as sementes começam a crescer novamente, e o ciclo prossegue no ano seguinte.

Assim será a palavra que sair da minha boca. A palavra de Yahweh agora é a chuva, a semente, os processos agrícolas, tudo de que os homens precisam para a vida e o crescimento espiritual. A palavra não retorna, mas realiza seu ofício, tal como as chuvas continuam a regar a terra e não voltam ao céu. Há propósito naquilo que acontece, e há propósito e provisão divina nas chuvas materiais, bem como nas chuvas celestiais. A palavra de Deus garante a prosperidade, material e espiritual, bem como a concretização do propósito divino.
Assim como a chuva causa a germinação e, finalmente, prove o sustento, assim acontece à palavra de Deus.” Em última análise, os propósitos de Deus que visam o bem dos homens vencem a resistência humana. A chuva divina suaviza o coração dos homens, tal como a chuva natural faz ao solo. O alvo da chuva é a produção de frutos na terra. Quanto aos propósitos de Deus, “o propósito de Deus está em sua Palavra, e isso será concretizado em benditos eventos no mundo, pois o propósito divino e os eventos causados estão indissoluvelmente relacionados”.

(in CHAMPLIM, Russel Normam. O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo – volume 5. São Paulo: Hagnos, 2ª ed.)

terça-feira, 24 de abril de 2012

Conhece-te a ti mesmo!


"Também da soberba guarda o teu servo"  (Salmos 19.13)


Esta foi a oração de Davi, o homem segundo o coração de Deus (ver Atos 13.22). Se Davi precisou orar desta maneira, nós, bebês na graça divina, temos de orar muito mais! Era como se Davi estivesse dizendo: "Guarda-me ou correrei apressada e impetuosamente para o precipício do pecado". Nossa natureza má, à semelhança de um cavalo mal dominado, é tentada a afastar-se rapidamente do caminho. 

Que a graça coloque em nós as rédeas, para que não nos precipitemos no engano. Não é agradável imaginar o que os melhores de nós poderíamos fazer, se não houvesse os limites que o Senhor nos outorga em sua providência e em sua graça! Mesmo as pessoas mais santas precisam ser guardadas das mais vis transgressões. O apóstolo advertiu solenemente os santos contra os mais repugnantes pecados. "Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria" (Colossenses 3.5).

Certamente você tropeçará, se deixar de olhar para Aquele que é capaz de guardá-lo de cair no pecado. Se o seu amor é intenso, a sua fé, constante, a sua esperança, brilhante, não diga: "Eu nunca pecarei"; pelo contrário, você deve clamar: "Não nos deixe cair em tentação". Existe muitas faíscas no coração dos melhores dos homens, faíscas capazes de acender um fogo que arde até ao inferno, a menos que Deus apague as chamas, quando esses homens caírem. Hazael disse: "Que é teu servo, este cão, para fazer tão grandes coisas?" (2 Reis 8.13.) Somos inclinados a fazer esta mesma pergunta cheia de justiça própria. Que a infinita sabedoria nos cure da tolice da autoconfiança.


Quanto amo a tua lei!


"Oh! Quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia! Tu, pelos teus mandamentos, me fazes mais sábio que meus inimigos, pois estão sempre comigo. Tenho mais entendimento do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos. Sou mais prudente do que os velhos, porque guardo os teus preceitos. Desviei os meus pés de todo caminho mau, para observar a tua palavra. Não me apartei dos teus juízos, porque tu me ensinaste. Oh! Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais doces do que o mel à minha boca. Pelos teus mandamentos, alcancei entendimento; pelo que aborreço todo falso caminho.

Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho. Jurei e cumprirei que hei de guardar os teus justos juízos. Estou aflitíssimo; vivifica-me, ó SENHOR, segundo a tua palavra. Aceita, SENHOR, eu te rogo, as oferendas voluntárias da minha boca; ensina-me os teus juízos. A minha alma está de contínuo nas minhas mãos; todavia, não me esqueço da tua lei. Os ímpios me armaram laço; contudo, não me desviei dos teus preceitos. Os teus testemunhos tenho eu tomado por herança para sempre, pois são o gozo do meu coração. Inclinei o meu coração a guardar os teus estatutos, para sempre, até ao fim."    (Salmos 119:97-112)

Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra.” O salmista exclama “Quanto amo a tua lei!”. E depois acrescenta que se tornou mais sábio que os seus inimigos e alcançou mais compreensão que os seus mestres. Mas isso não é para causar admiração, porque as intuições de quem ama são rápidas e infalíveis. Os que amam, sabem. Nós temos dois órgãos de conhecimento: a cabeça e o coração. Este é o mais ágil e o mais verdadeiro dos dois, e acha-se predisposto ao amor, tanto humano quanto divino, como a lira às mãos do músico. O estudo da Palavra de Deus feito por alguém que a ama, dá-lhe uma compreensão que nenhuma cultura universitária é capaz de conferir, mesmo que esse alguém seja simples e iletrado. Ele fica de posse de uma lâmpada que o guia certeiramente pelas trilhas sinuosas desta vida mortal.

Também existe outra vantagem: aquele que é profundamente instruído na Palavra de Deus detesta todo caminho de falsidade. E não é que ele seja simplesmente advertido a não tomá-lo: ele não quer tomá-lo. O resultado do amor à Bíblia, e do estudo dela, é uma aversão ao pecado. Podemos não reter tudo o que aprendemos, mas a água que passa por uma peneira a limpa.

(MEYER, F.B. Comentário Bíblico. Belo Horizonte: Betânia, 2002, 2ª ed., p.321)


quinta-feira, 19 de abril de 2012

Não faça da leitura da Bíblia algo fútil


Charles H. Spurgeon

Devemos entender aquilo que lemos na Palavra de Deus, sendo que de outra forma, lemos em vão, reconhecemos que quando passamos ao estudo das Escrituras Sagradas devemos esforçar-nos para ter nossa mente bem atenta. Parece-me que nem sempre estamos em boas condições para ler a Bíblia. As vezes, seria bom fazermos uma pausa antes de abrirmos o Livro. "Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa." Você acabou de chegar de seus negócios seculares, com seus cuidados e ansiedades, e não consegue pegar naquele Livro e imediatamente penetrar nos seus mistérios celestiais.


Assim como você pede a bênção sobre sua refeição antes de começar a comer, também seria uma boa regra pedir uma bênção sobre sua leitura da Palavra antes de ingerir sua comida celestial. Ore para que o Senhor abra os seus olhos espirituais, antes de você ousar olhar para a luz eterna das Escrituras. A leitura bíblica é a hora de nossa refeição espiritual. É só tocar a sineta e convidar todas as faculdades mentais à mesa do próprio Senhor para fartar-se com a comida que agora está pronta; ou, melhor, que soe como o toque dos sinos da igreja em convite para a adoração, porque o estudo das Sagradas Escrituras deve ser uma ação tão solene como nosso ato de adoração na casa do Senhor.

Meditação na Palavra

Se a leitura começar dessa forma, você perceberá imediatamente que, para compreender aquilo que lê, precisará meditar a respeito. Alguns trechos bíblicos ficam claros diante dos nossos olhos — baixos abençoados onde os cordeiros podem chapinhar; existem, no entanto, profundezas onde nossa mente poderia antes afogar-se do que nadar com prazer, se ela chegasse até lá sem cautela. Existem textos das Escrituras que foram feitos e construídos com o propósito de nos levar a pensar. Por esse meio, inclusive, nosso Pai celestial quer nos educar para o céu — fazendo-nos penetrar nos mistérios divinos com a nossa mente. Por isso, Ele nos oferece a sua Palavra de uma forma às vezes complexa, para nos compelir a meditar sobre ela, antes de chegarmos à sua doçura.


Ele poderia ter explicado tudo de tal maneira que captássemos o pensamento num só minuto, mas não foi da vontade dele fazer assim em todos os casos. Muitos dos véus que são lançados sobre as Escrituras não têm a intenção de ocultar o significado aos leitores diligentes, mas de compelir a mente a ser ativa, pois muitas vezes a diligência do coração em procurar saber a vontade divina faz mais bem ao coração do que a própria sabedoria obtida. A meditação e o esforço mental cuidadoso servem como exercício e fortalecimento da alma, que passa a ficar em condições de receber verdades ainda mais sublimes.


Precisamos meditar. Essas uvas não produzem vinho até serem pisadas por nós. Essas azeitonas precisam ser colocadas debaixo da roda, e prensadas repetidas vezes, para que o azeite flua delas. Olhando para um punhado de nozes, percebemos quais delas já foram comidas, porque há um buraquinho onde o inseto furou a casca — só um buraquinho, e lá dentro há uma criatura vivente comendo a noz.


Ora, é uma coisa maravilhosa furar a casca da letra, para então ficar por dentro comendo a própria noz. Bem que eu gostaria de ser um vermezinho assim, vivendo dentro da Palavra de Deus, alimentando-me dela, depois de ter aberto caminho através da casca e ter chegado ao mistério mais interior do evangelho bendito. A Palavra de Deus sempre é mais preciosa para o homem que mais se alimenta dela.


No ano passado, sentado debaixo de uma faia nogueira que se estendia em todas as direções, e admirando aquela árvore tão maravilhosa, pensei comigo mesmo: Não tenho nem a metade da estima por essa faia do que o esquilo tem. Vejo-o, pulando de galho em galho, e tenho certeza que ele dá muito valor àquela velha faia, porque tem seu lar em algum oco dentro dela, os galhos são o seu abrigo, e aquelas nozes de faia são o seu alimento. Ele vive da árvore. É seu mundo, seu pátio de recreio, seu celeiro, seu lar; realmente, é tudo para ele; mas para mim, não, porque obtenho meu repouso e minhas refeições em outro lugar.


No caso da Palavra de Deus, é bom sermos como esquilos, habitando nela e vivendo dela. Exercitemos nossa mente, pulando de galho em galho na Palavra; achemos nela o nosso repouso e façamos dela o nosso tudo. O proveito será todo nosso, se fizermos dela nosso alimento, nosso remédio, nosso tesouro, nosso arsenal, nosso repouso, nossa delícia. Que o Espírito Santo nos leve a fazer assim, tornando a Palavra tão preciosa à nossa alma!



sábado, 14 de abril de 2012

Morrerei por ti se for preciso


Até que ponto vai a nossa dedicação no discipulado individual? Até onde estamos dispostos a ir para resgatar o perdido? A história abaixo nos leva a refletir sobre estas questões. Que o Senhor Jesus acenda em nós paixão pelos perdidos... 




"A  primeira perseguição cessou durante o reinado de Vespasiano que permitiu algum descanso aos pobres cristãos. Depois dele, logo veio a segunda perseguição desencadeada pelo imperador Domiciano, irmão de Tito. Agindo no início de forma branda e moderada, ele em seguida cometeu um ultraje tão grande em seu insuportável orgulho que ordenou a adoração de si mesmo como deus e mandou que em sua honra imagens de ouro e prata fossem erigidas no capitólio.

Nessa perseguição, João, o apóstolo e evangelista, foi exilado por Domiciano para a ilha de Patmos. Depois que o imperador morreu assassinado e o senado revogou as suas leis, João foi posto em liberdade e no ano 97 veio para Éfeso, onde permaneceu até o reinado de Trajano. Ali dirigiu as igrejas da Ásia e escreveu o seu evangelho. E assim viveu ele até o ano 68 depois da paixão de nosso Senhor, quando a sua idade era de aproximadamente cem anos.

Clemente de Alexandria acrescenta uma certa história relativa ao santo apóstolo, que merece ser lembrada por aqueles que têm prazer nas coisas honestas e proveitosas. A história é a seguinte: Quando João voltou para Éfeso procedente da ilha de Patmos, solicitaram-lhe que visitasse os lugares nas redondezas. Quando, ao fazê-lo, chegara a uma certa cidade e havia confortado os irmãos, viu um jovem de corpo robusto, belo semblante e espírito ardente. Fixando sério o recém- indicado bispo, disse João: — Eu, da maneira mais solene, entrego este homem em tuas mãos, aqui na presença de Cristo e da Igreja.

Quando o bispo havia recebido de João essa responsabilidade e havia prometido agir com fidelidade e diligência em relação a ela, João novamente dirigiu-lhe a palavra e lhe confiou a responsabilidade como antes fizera. Feito isso, João voltou para Éfeso. O bispo, recebendo o jovem entregue aos seus cuidados, trouxe-o para casa, cuidou dele, alimentou-o e finalmente o batizou. Depois disso, ele gradativamente relaxou sua atenção e vigilância sobre o jovem, confiando que já lhe dera as melhores salvaguardas possíveis ao marcá-lo com o selo do Senhor.

O jovem tinha então mais liberdade, e aconteceu que alguns de seus velhos amigos e conhecidos, que eram ociosos, dissolutos e endurecidos na maldade, passaram a fazer-lhe companhia. Inicialmente o convidaram para suntuosos e libertinos banquetes; depois o convenceram a sair com eles pela noite para furtar e roubar; em seguida, eles o tentaram a cometer maiores males e maldades. Assim, com o tempo veio o costume e pouco a pouco o jovem se tornou mais habilidoso e, sendo muito inteligente e de intrépida coragem, como um cavalo bravio ou indomado, abandonando o caminho reto e correndo solto e sem peias, foi levado de cabeça para as profundezas da desordem e do ultraje. E assim, esquecendo-se por completo da salutar doutrina da salvação que antes aprendera a ponto de rejeitá-la, foi tão longe no caminho da perdição que para ele avançar muito mais não era motivo de ansiedade. Desse modo, juntando-se a um bando de companheiros e colegas ladrões, ele assumiu o papel de cabeça e capitão entre os colegas, na perpetração de todos os tipos de assassínios e felonias.

Aconteceu que João foi novamente solicitado a visitar aquela região. Veio e, ao encontrar-se com o bispo a quem nos referimos antes, cobrou dele que prestasse contas do compromisso assumido na presença de Cristo e da congregação que estivera presente na ocasião. O bispo, algo surpreso com as palavras de João, supondo que se referissem a algum dinheiro posto sob sua custódia e que ele não recebera (mas mesmo assim não ousava desconfiar de João nem contrariar-lhe as palavras), não sabia o que responder. Então João, percebendo a sua perplexidade, expressando o que queria dizer de modo mais claro, explicou: — O jovem e a alma do nosso irmão posta sob a sua custódia, eu os exijo. — Então o bispo, lamentando e chorando em altos brados, disse: — Ele morreu. — E João indagou: — Como, qual foi a causa da morte? — Disse o outro: — Ele morreu para Deus, pois se tornou um homem mau e desregrado e acabou como um ladrão. Agora frequenta a montanha em vez da Igreja, na companhia de malfeitores e ladrões iguais a ele.

Nesse ponto o apóstolo rasgou suas vestes e, lamentando muito, disse: — Que belo guardião da alma de seu irmão deixei aqui! Arranje-me um cavalo e arrume um guia que me acompanhe. — Feito isso, providenciados o cavalo e o homem, ele saiu às pressas da Igreja. Chegando ao lugar indicado, foi preso por ladrões que estavam à espreita. Mas ele, sem tentar fugir ou resistir, disse: — Vim até aqui com uma finalidade. Levem-me — disse ele — ao seu capitão. Assim que se cumpriu o seu pedido, o capitão, armado até os dentes, começou a examiná-lo de modo impiedoso. Logo em seguida, ao reconhecê-lo, foi tomado de confusão e vergonha e empreendeu uma fuga. Mas o velho o seguiu como pôde e, esquecendo-se da idade, gritava: —Meu filho, por que foges de teu pai? Um homem armado fugindo de um homem despojado, um jovem fugindo de um velho? Tem piedade de mim, meu filho, e não tenhas medo, pois ainda resta esperança de salvação. Eu responderei a Cristo por ti. Eu morrerei por ti, se for preciso. Como Cristo morreu por nós, eu darei a minha vida por ti. Acredita-me, foi Cristo que me enviou.

O capitão, ouvindo tais palavras, primeiro, como se estivesse confuso, ficou estático, e com isso a sua coragem se abateu. Depois jogou as armas ao chão e aos poucos começou a tremer, sim, e depois chorou amargamente. Em seguida, aproximando-se do velho, abraçou-o e falou com ele chorando (da melhor maneira que pôde), sendo novamente batizado no ato com lágrimas. Mas escondia a mão direita que estava encoberta.

Em seguida o apóstolo, depois de prometer que obteria o perdão de nosso Salvador, orou, caindo de joelhos, e beijou-lhe a mão direita assassina (que por vergonha ele antes não ousava mostrar), agora purificada pelo arrependimento, e o trouxe de volta para a Igreja. E quando havia rogado por ele com oração contínua e jejuns diários, e o havia fortalecido e confirmado a sua mente com muitas máximas, João o deixou novamente restaurado para a Igreja. Um grande exemplo de sincera penitência, prova de regeneração e um troféu da futura ressurreição."

(FOXE, John. O livro dos Mártires. São Paulo: Mundo Cristão, 2003, pgs. 22-24)

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Andeis de modo digno da vocação com que fostes chamados


"Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como 
é digno da vocação com que fostes chamados" (Efésios 4:1)


Assegura-te de que o teu estilo de vida não contradiga o teu ensino, de outro modo, terminarás desfazendo todo o bem que pudesses ter feito. Se as nossas vidas forem inconsistentes, as pessoas logo pensarão que há muito pouca verdade no cristianismo e que a nossa pregação é somente palavreado. Se o que dizemos é a sério, então coloquemos em prática o que dizemos. Uma só palavra de soberba, uma explosão de irritação, ou um só ato egoísta podem destruir rapidamente todos os teus trabalhos. Se não desejas o êxito do Evangelho, então por que é que estás no ministério? Não estás preparado para aguentar insultos e ofensas, não estás disposto a controlar o teu temperamento, a mortificar o teu orgulho e a acomodares-te aos pobres para ganhar almas? É estranho ver como alguns pregam muito cuidadosamente, mas vivem descuidadamente. Devemos ter muito cuidado de ser fazedores da palavra e não somente “faladores”, enganando-nos a nós mesmos. Devemos ser tão cuidadosos acerca da nossa forma de viver, tal como somos cuidadosos a pregar. Se desejamos ganhar almas, então esta será a nossa meta, tanto como quando estamos no púlpito, como tanto como estamos fora dele. Sê diligente para usar toda a tua vida para Deus e não simplesmente a tua língua.

Mantém uma conduta e uma forma de falar que sejam irrepreensíveis. A tua vida deveria condenar o pecado e inspirar a piedade em todos os aspectos. Se quiseres que o povo cuide bem das suas famílias, então, deverias cuidar bem da tua. Não há nada que se compare com a mansidão e a auto negação como meios para vencer os preconceitos. Resiste a tentação de usar a tua autoridade para pressionares as pessoas à submissão e à obediência. Sê amigo de todos, especialmente dos membros pobres da tua igreja. Isto pode ser um caminho eficaz para fazeres muito bem.

(in BAXTER, Richard. O pastor aprovado.)

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Como ter tempo para ler


Com a rotina cheia de obrigações, é difícil conseguir terminar um livro em poucos dias. Descubra algumas dicas para ler mais e em menos tempo

Uma dica ótima se você quer encontrar tempo para ler sem ter que, necessariamente, mudar sua rotina é começar com um livro que você adora / Crédito: Shutterstock.com
Queremos mais tempo para fazer exercíciosler livros, ir ao cinema e dormir, mas conseguir fazer todas essas coisas e ainda trabalhar é muito difícil. Estabelecer uma rotina que nos satisfaça pessoal e profissionalmente exige muito foco e organização. No caso da leitura, na maioria das vezes temos tempo para ler, apenas não percebemos isso.
As tentações que não nos deixam ler fazem com que pensemos que tudo o que nos falta é tempo, quando na realidade a falta é de disciplina. Tentações eletrônicas, por exemplo, estão sempre disponíveis para nos privar de uma atividade mental que requere mais foco e esforço como a leitura. Quando chegamos em casa depois de um dia de trabalho, é difícil encontrar disposição suficiente para desligar a TV e se concentrar em um livro mais desafiador.
Uma dica ótima se você quer encontrar tempo para ler sem ter que, necessariamente, mudar sua rotina é começar com um livro que você adora. Quando lemos algo assim, encontramos o tempo necessário para conseguir ler alguma página a mais. Queremos saber o próximo passo dos personagens e como aquela cena espetacular irá terminar, então não medimos esforços para ler.
Tente perceber em que horários ou em quais oportunidades você consegue ler. Durante o horário de almoço, no caminho de ida e volta para casa, antes de dormir, nos intervalos das aulas, etc. Você irá perceber que tem sim tempo para ler, apenas não aproveita como deveria.