quinta-feira, 31 de maio de 2012

Deus nunca erra!


Um rei, que não acreditava na bondade de Deus, tinha um servo que em todas as situações  lhe  dizia:  "Meu  rei ,  não desanime porque tudo o que Deus faz é perfeito, Ele não erra!"

Um dia saíram para caçar e uma fera atacou o rei. O seu servo conseguiu matar o animal, mas não pôde evitar que o rei perdesse um dedo da mão. Furioso, e sem mostrar gratidão por ter sido salvo, o nobre disse: "Deus é bom? Se Ele fosse bom eu não teria sido atacado e perdido o meu dedo."

O servo apenas respondeu: "Meu Rei, apesar de todas essas coisas, só posso dizer-lhe que Deus é bom; Ele sabe o porquê de todas as coisas. O que Deus faz é perfeito. Ele nunca erra!"

Indignado com a resposta, o rei mandou prender o seu servo. Tempos depois, saiu para uma outra caçada e foi capturado por selvagens que faziam sacrifícios humanos. Já no altar, prontos para sacrificar o nobre, os selvagens perceberam que a vítima não tinha um dos dedos e soltaram-no: ele não era perfeito para ser oferecido aos deuses.

Ao voltar para o palácio, mandou soltar o seu servo e recebeu -o  muito afetuosamente. "Meu caro, Deus foi realmente bom comigo! Escapei de ser sacrificado pelos selvagens, justamente por não ter um dedo! Mas tenho uma dúvida: se Deus é tão bom, por que permitiu que você, que tanto o defende, fosse preso?"

"Meu rei, disse o servo, se eu tivesse ido com o senhor nessa caçada, teria sido sacrificado em seu lugar, pois não me falta dedo algum. Por isso, lembre-se: tudo o que Deus faz é perfeito."

fonte: Revista Refrigério, ano 26, número 142, janeiro/fevereiro 2012.


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Abreviaturas Biblicas

A falta de "intimidade" com as Escrituras pode contribuir em muito para o não entendimento do contexto das publicações que são disponibilizadas aos cristãos (Livros, Periódicos, Revistas, etc.) que, em geral, têm o conteúdo recheado com citações em suas diversas formas de abreviações. A relação entre o cristão e a sua Bíblia não pode ser deficiente, mas deve manifestar certa "perícia" do leitor com a sua "espada" (II Tm 2:15). É básico "aprender" a identificar as abreviaturas comumente usadas para "mapear" os textos sagrados para que a leitura não se torne infrutífera. Desejamos que a "simplicidade" dos exemplos apresentados a seguir possam auxiliar no sentido de promover um melhor manuseio das Escrituras e de qualquer publicação abordando as mesmas.

Entendendo o Método
Para auxiliar de uma maneira simples e prática publicamos as seguintes orientações quanto às abreviaturas. Vejamos:
É comum o uso de abreviaturas para se referir aos índices e citações bíblicas. Geralmente os formatos convencionados seguem o padrão abaixo:
[:] Os "dois pontos" — Separam o capítulo dos versos;
[-] O "hífen" — Indica uma faixa contínua de versos;
[,] A "vírgula" — Indica uma sequência não contínua de versos;
[;] O "ponto-e-vírgula" — Inicia um novo capítulo do mesmo livro, ou não, caso seguido de abreviação de outro Livro.

Exemplos:
  • Gn 3:1-15 — Gênesis, capítulo 3, versículos 1 a 15
  • Dn 9:25, 27; 11:3-43 — Daniel, capítulo 9, versículos 25 e 27 e capítulo 11, versículos 3 a 43
  • Mt 24-26 / Ap 1:1-8 — Mateus, capítulos 24 a 26 e Apocalipse, capítulo 1, versículos 1 a 8
  • Rm 11:18 — Romanos, capítulo 11, versículo 18
  • II Ts 2:2-12 — Segunda Tessalonicenses, capítulo 2, versículos 2 a 12

Quando quisermos citar a "Segunda Epístola aos Tessalonicenses", basta escrevermos "2Ts". Caso deseje um capítulo mais específico nesta Epístola, siga o exemplo de "2Ts 2". Entende-se desta maneira: "Segunda Epístola aos Tessalonicenses, Capítulo dois".

Para fazermos citações mais completas, usamos alguns sinais de pontuação:
1) A vírgula separa os versículos do capítulo:
  • Mt 16:18 [ Evangelho segundo Mateus, capítulo 16, versículo 18 ]

2) O hifen apresenta uma sequência de capítulos ou versículos:
  • At 1-2 [ Atos dos Apóstolos, capítulos 1 e 2 ]
  • Ex 15:2-5 [ Livro do Êxodo, capítulo 15, versículos 2 à 5 ]
3) O ponto apresenta capítulos e/ou versículos citados isoladamente.
  • I Cr 1:3 [ Primeiro Livro das Crônicas, capítulos 1 e 3 ]
  • Is 32:1, 4, 6 [ Livro do Profeta Isaías, capítulo 32, versículos 1, 4 e 6 ]

4) O ponto e vírgula dispõe capítulos e versículos isolados, mas pertencentes ao mesmo
livro.
  • Jo 3:23-25; 6:1-4 [ Evangelho Segundo João, capítulo 3, versículos de 23 à 25 e capítulo 6, versículos de 1 à 4 ]

Algumas Bíblias podem usar "s" e "ss" após o número do capítulo e / ou versículo ("s" significa seguinte e "ss", seguintes). São usados para simplificar um pouco mais a citação, respectivamente, de dois ou três capítulos e / ou versículos. Exemplos:
  • Rm 2:5s - significa: Epístola aos Romanos, capítulo 2, versículos 5 e 6 (o versículo 5 e o seguinte);
  • Tg 1s - significa: Epístola de Tiago, capítulos 1 e 2 (isto é, o capítulo 1 e o seguinte);
  • Ap 6:7ss - significa: Livro do Apocalipse, capítulo 6, versículos de 7 à 9 (isto é, o versículo 7 e os dois seguintes).

Com todas essas abreviações e sinais podemos montar e citar, de forma bem resumida, qualquer passagem Bíblica. Exemplo:
  • Lv 1:12-15, 20; 3:2s; Mc 1:3ss, 10; 2 Cor 3-5
Significa, respectivamente:
  • Livro do Levítico, capítulo 1, versículos de 12 à 15 e o versículo 20; no mesmo Livro do Levítico, capítulo 3, versículos 2 e 3;
  • Evangelho Segundo Marcos, capítulo 1, versículos de 3 à 5 e o versículo 10;
  • Segunda Epístola aos Coríntios, capítulos de 3 à 5.
TABELA DE ABREVIATURAS E CAPÍTULOS
AT
ABREV
CAP
NT
ABREV
CAP
Gênesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio
Josué
Juízes
Rute
I Samuel
II Samuel
I Reis
II Reis
I Crônicas
II Crônicas
Esdras
Neemias
Ester

Salmos
Provérbios
Eclesiastes
Cantares
Isaías
Jeremias
Lamentações
Ezequiel
Daniel
Oséias
Joel
Amós
Obadias
Jonas
Miquéias
Naum
Habacuque
Sofonias
Ageu
Zacarias
Malaquias
Gn
Ex
Lv
Nm
Dt
Js
Jz
Rt I
I Sm
II Sm
I Rs
II Rs
I Cr
II Cr
Ed
Ne
Et

Sl
Pv
Ec
Ct
Is
Jr
Lm
Ez
Dn
Os
Jl
Am
Ob
Jn
Mq
Na
Hc
Sf
Ag
Zc
Ml
50
40
27
36
34
24
21
4
31
24
22
25
29
36
10
13
10
42
150
31
12
8
66
52
5
48
12
14
3
9
1
4
7
3
3
3
2
14
4
Mateus
Marcos
Lucas
João
Atos
Romanos
I Coríntios
II Coríntios
Gálatas
Efésios
Filipenses
Colossenses
I Tessalonicenses
II Tessalonicenses
I Timóteo
II Timóteo
Tito
Filemon
Hebreus
Tiago
I Pedro
II Pedro
I João
II João
III João
Judas
Apocalipse
Mt
Mc
Lc
Jo
At
Rm
I Co
II Co
Gl
Ef
Fp
Cl
I Ts
II Ts
I Tm
II Tm
Tt
Fm
Hb
Tg
I Pe
II Pe
I Jo
II Jo
III Jo
Jd
Ap
28
16
24
21
28
16
16
13
6
6
4
4
5
3
6
4
3
1
13
5
5
3
5
1
1
1
22


Manuseio das Escrituras

Procure familiarizar-se com as páginas da Bíblia evitando o hábito de abrir algo tão importante para o crescimento espiritual somente durante as reuniões da Igreja. O devocional diário deve ser tratado como as principais refeições diárias [Café da Manhã - Almoço - Jantar]. Essa atitude vai contribuir para o melhor manuseio das Escrituras.

As Escrituras podem ser tratados como um conjunto de "mapas". É necessário entender as "coordenadas" que o Espírito Santo revela com o propósito de orientar o caminhar diário do cristão. Tão essencial quanto memorizar versículos (tê-lo em mente), é saber onde se encontra e, com destreza, localizá-lo e aplicá-lo apropriadamente, sempre respeitando o contexto onde está inserido. Textos isolados não devem ser usados como pretexto para justificarem pontos de vista próprios. Atente para o conselho que foi dado a um jovem:

"Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade." [II Tm 2:15].


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Teste para Avaliação de Professores da Escola Dominical


Autoavaliar-se é o ato de julgar seu próprio desempenho nas atividades propostas. É a análise do esforço despendido em relação ao que foi solicitado¹. Na qualidade de professores de educação cristã, fomos colocados por Deus para transmitir às pessoas um ensino capaz de gerar uma transformação de vida, a qual será moldada segundo o caráter de Cristo através da Palavra de Deus. Assim, nossa responsabilidade é imensa. Precisamos constantemente avaliar nosso papel no ministério de ensino para que jamais percamos o foco de formar cristãos alicerçados no Senhor.


Assim, como ferramenta para autoavaliação, apresentamos aqui um pequeno teste de avaliação para professores de Escola Bíblica Dominical. As respostas devem ser apenas “SIM” ou “NÃO”. Ao final, há um pequeno guia para verificação dos resultados, mas não se preocupe com isto agora, faça o teste primeiro... vamos lá!

  1. (…....) Você tem procurado levar seus alunos a Cristo, alunos crentes ou não crentes, um por um?
  2. (…....) Você tem procurado desenvolver a espiritualidade de seus alunos, e tem sentido a realidade disto?
  3. (…....) Você tem orientado e treinado seus alunos quanto aos trabalhos da igreja local, incentivando-os a fazer o máximo no serviço do Mestre?
  4. (…....) Você ora diariamente pelos alunos de sua classe?
  5. (…....) Você quando, não está doente, é pontual na Escola Dominical, quer chova, faça frio ou calor?
  6. (…....) Você varia seus métodos de ensino durante a aula, usando assim uma combinação deles?
  7. (…....) Você começa a preparar a lição no princípio da semana, nem que seja por um quarto de hora diariamente, concentrando-se no objetivo da mesma?
  8. (…....) Você sabe controlar um aluno conversador sem que ele se ofenda?
  9. (…....) Você conhece seus alunos pessoalmente?
  10. (…....) Você tem em seu poder uma lista dos seus alunos com os respectivos dados pessoais, como endereço, telefone, e-mail?
  11. (…....) Você visita cada aluno pelo menos uma vez por ano, ou entra em contato imediatamente quando um aluno falta a partir de duas aulas?
  12. (…....) Você localiza a lição nos mapas bíblicos durante o preparo da mesma?
  13. (…....) Você trabalha em harmonia com os demais professores e oficiais da Escola Dominical, sem intransigência e individualismo?
  14. (…....) Você lê sempre livros, artigos e periódicos sobre pedagogia e educação cristã? Também frequenta cursos de curta duração sobre esses assuntos, uma vez ministrados?
  15. (…....) Você tem uma vida cristã exemplar, de modo que você gostaria que seus alunos fossem como você?
  16. (…....) Você analisa suas aulas, seus trabalhos, depois de realizados, notando a reação dos alunos e falhas que você porventura tenha cometido (autocrítica e autoavaliação)?
  17. (…....) Ninguém é infalível. Precisamos sempre aprender mais com os que sabem ensinar, porque não sabemos tudo. Os que não concordam com os meus pontos de vista não significa que estão errados. Você concorda com essas afirmações?
  18. (…....) Você sente-se bem quando seus dirigentes, de modo cortês e cristão, lhe observam, orientam e lhe fazem solicitações?
  19. (…....) Você cuida sempre de sua vida espiritual, orando regularmente, lendo a Bíblia, buscando ser cheio do Espírito Santo, e servindo com dedicação ao Senhor?
  20. (…....) Você planeja e prepara seus trabalhos para a sua classe e os distribui no fim das aulas?



VERIFICAÇÃO DOS RESULTADOS – cada resposta SIM vale 5 pontos. Se você obteve de

80 a 100 pontos
PARABÉNS! Você é um EXCELENTE professor!
60 a 80 pontos
Você é um BOM professor, mas tem que melhorar.
50 a 60 pontos
Você é um professor REGULAR. Verifique os pontos falhos e decida melhorar rapidamente isso diante do Senhor.
Abaixo de 50
Você é um professor INSUFICIENTE. Examine-se diante do Senhor. Você tem que aprender, não ensinar. Decida o que você quer!


(adaptado de CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE PROFESSORES DA ESCOLA DOMINICAL, de Antônio Gilberto. Rio de Janeiro: CPAD, 1976, 3ª ed.)

Referências:
¹HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover – as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2001.


terça-feira, 22 de maio de 2012

Discurso filosófico em oposição à verdade revelada de Deus

E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria” (1 Coríntios 2:1)


No capítulo 1 da primeira carta aos Coríntios, Paulo chamou a atenção para o conteúdo do evangelho e o identificou com a expressão da sabedoria de Deus. Já no capítulo 2, Paulo chama a atenção para a maneira da apresentação do ensino de Cristo. Nem a “sublimidade de palavras” (ou eloquência, hyperochen logou: uma poderosa oratória) (1Co 2.1), nem a “sabedoria”, ou a sabedoria superior, conforme algumas versões (o significado provável de sophia aqui é “discurso filosófico”) são relevantes.

Esse ponto é importante porque na cultura helenística a habilidade de um orador era sempre julgada como mais importante do que o conteúdo do seu discurso, e, em muitos casos, nos tribunais o veredicto era mais favorável ao advogado cuja oratória era poderosa do que àquele que possuía o direito ao seu lado. Mas quando se trata da apresentação do evangelho, a mensagem é mais importante do que o mensageiro. É a verdade do evangelho que move as pessoas. A validade de nosso testemunho não se sustenta ou cai dependendo de nossa aparência, ou de nossa habilidade de discursar.

Os muitos cristãos modernos também podem dar mais importância ao mensageiro do que à mensagem. “Eu gosto muito da forma como essa pessoa prega...” - essa é uma expressão que mostra que, para alguns, a maneira de pregar pode parecer muito mais importante do que o conteúdo do sermão. O que devemos considerar é se o sermão nos desafia, nos ensina e nos chama para um modo de vida transformado.

Mas falamos a sabedoria de Deus oculta em mistério” (1Co 2:7). O que caracteriza a sabedoria de Deus? Paulo tem quatro coisas importantes a dizer sobre ela:

  1. ela está contida em mysterion – ela é uma sabedoria oculta em mistério. O termo refere-se à verdade inacessível aos seres humanos, mas agora revelada a todos em Cristo;

  2. oculta em mistério”. Até a encarnação, Deus ocultou em vez de revelar aquela parte de seu plano eterno que agora foi revelado em Jesus;

  3. nenhum dos príncipes deste mundo conheceu” (1Co 2:8). Paulo quer dizer que a sabedoria de Deus permanece oculta àqueles que se recusam a crer. Embora revelada àqueles que estão comprometidos com a maneira como o homem vê o universo, simplesmente não conseguem “enxergar” o evangelho;

  4. finalmente, embora fora de ordem, a sabedoria de Deus tem como finalidade nossa glória (1Co 2:7). Ao firmamos nossa posição junto à sabedoria divina, somos assegurados da salvação definitiva que nos foi prometida, porque seremos transformados na própria imagem de Cristo na presença do nosso Deus.
Que contraste com a sabedoria humana, restrita como é não só por poderes insignificantes, mas também por nossa própria incapacidade de enxergar a realidade que reside além do mundo físico e social no qual vivemos.

Que loucos seremos se deixarmos que os argumentos de meros seres humanos nos desviem, de alguma forma, de nosso compromisso com a verdade revelada de Deus!

Referência

RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro:CPAD, 2008, 3ª ed

terça-feira, 15 de maio de 2012

O ministério também envolve deveres


Richard Baxter

"Por causa da natureza do trabalho, os senhores se relacionam com Cristo e com o seu rebanho. São mordomos dos mistérios do Senhor, despenseiros de sua casa. Aquele que lhes confiou a obra haverá de mantê-los firme no trabalho. Contudo, veja que 'o que se requer dos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel' (1Co 4.2). Sejam fiéis ao Senhor, jamais duvidando que ele mesmo é o Fiel cuja fidelidade não falha. Alimentem o rebanho do Senhor e deixe que ele os alimente, tal como fez com Elias, não permitindo que nada lhe faltasse. Na prisão, ele lhes abrirá as portas; sua missão é a de libertar almas aprisionadas. Ele lhes dará língua de sabedoria que nenhum inimigo resistirá (Lc 21.15), para que a dispensem com fidelidade. Se os senhores estenderem as mãos para aliviar o aflito, ele enfraquecerá as mãos dos opositores. Os pastores de nossa pátria, estou certo, sabem destas coisas de experiência própria. Foram, muitas vezes, libertados da boca do devorador, pela graça fiel de Deus. Ah! Que admirável preservação tiveram das mãos dos perseguidores tiranos e de homens apaixonados e mal direcionados! Considerem, irmãos, a razão pela qual Deus faz tudo isso. Por causa dos pregadores ou da igreja? O que teríamos, mais do que outros homens, exceto nosso trabalho e amor pelas pessoas? Os senhores são anjos? Sua carne foi feita de melhor barro do que a do seu próximo? Não pertencemos à mesma geração pecadora que necessita da graça de Deus, tanto quanto os demais? Levantem-se, então, e trabalhem como homens redimidos do Senhor, que foram resgatadas da ruína para o seu serviço, segundo seu propósito. Se cremos que Deus nos redimiu para ele mesmo, vivamos para ele, como propriedade dele. Dediquemo-nos, sem reserva, àquele que nos libertou."

(extraído de BAXTER, Richard. Manual Pastoral do Discipulado. São Paulo: Cultura Cristã, 2008)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Ensinar exige o comprometimento


Paulo Freire  

Outro saber que devo trazer comigo e que tem que ver com quase todos os de que tenho falado é o de que não é possível exercer a atividade do magistério como se nada ocorresse conosco. Como impossível seria sairmos na chuva expostos totalmente a ela, sem defesas, e não nos molhar. Não posso ser professor sem me por diante dos alunos, sem revelar com facilidade ou relutância minha maneira de ser, de pensar politicamente. Não posso escapar à apreciação dos alunos. E a maneira como eles me percebem tem importância vital para o meu desempenho. Daí, então, que uma de minhas preocupações centrais deva ser a de procurar a aproximação cada vez maior entre o que eu digo e o que eu faço, entre o que pareço ser e o que realmente estou sendo.

Se perguntado por um aluno sobre o que é “tomar distância epistemológica do objeto”, lhe respondo que não sei, mas que posso vir a saber, isso não me dá a autoridade de quem conhece, me dá a alegria de, assumindo minha ignorância, não ter mentido. E não ter mentido abre para mim junto aos alunos um crédito que devo preservar. Eticamente impossível teria sido dar uma resposta falsa, um palavreado qualquer. Um chute, como se diz popularmente. Mas, de um lado, precisamente porque a prática docente, sobretudo como a entendo, me coloca a possibilidade que devo estimular perguntas várias, preciso me preparar ao máximo para, de outro, continuar sem mentir aos alunos, de outro, não ter de afirmar seguidamente que não sei.

Saber que não posso passar despercebido pelos alunos, e que a maneira como me percebam me ajuda ou desajuda no cumprimento de minha tarefa de professor, aumenta em mim os cuidados com o meu desempenho. Se a minha opção é democrática, progressista, não posso ter uma prática reacionária, autoritária, elitista. Não posso discriminar o aluno em nome de nenhum motivo. A percepção que o aluno tem de mim não resulta exclusivamente de como atuo, mas também de como o aluno entende como atuo. Evidentemente, não posso levar meus dias como professor a perguntar aos alunos o que acham de mim ou como me avaliam. Mas devo estar atento à leitura que fazem de minha atividade com eles. Precisamos aprender a compreender a significação de um silêncio, ou de um sorriso ou de uma retirada da sala. O tom menos cortês com que foi feita uma pergunta. Afinal, o espaço pedagógico é um texto para ser constantemente “lido”, interpretado, “escrito” e “reescrito”. Neste sentido, quanto mais solidariedade exista entre o educador e educandos no “trato” deste espaço, tanto mais possibilidades de aprendizagem democrática se abrem na escola.

Creio que nunca precisou o professor progressista estar tão advertido quanto hoje, em face da esperteza com que a ideologia dominante insinua a neutralidade da educação. Desse ponto de vista, que é reacionário, o espaço pedagógico, neutro por excelência, é aquele em que se treinam os alunos para práticas apolíticas, como se a maneira humana de estar no mundo fosse ou pudesse ser uma maneira neutra.

Minha presença de professor, que não pode passar despercebida dos alunos na classe e na escola, é uma presença em si política. Enquanto presença, não posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de comparar, de avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu testemunho.

(FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e e Terra, 2011, pgs. 94-96.)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A heresia do egocentrismo


"Não negligencieis a prática do bem e a mútua cooperação [koinonia]"
Hebreus 13.16

por John MacArhur

O egocentrismo não tem lugar na igreja. Nem devíamos dizer isso, mas, desde o alvorecer da era apostólica até hoje, o amor próprio em todas as suas formas tem prejudicado incessantemente a comunhão dos santos. Um exemplo clássico e antigo de egocentrismo fora de controle é visto no caso de Diótrefes. Ele é mencionado em 3 João 9-10, onde o apóstolo diz: "Escrevi alguma coisa à igreja; mas Diótrefes, que gosta de exercer a primazia entre eles, não nos dá acolhida. Por isso, se eu for aí, far-lhe-ei lembradas as obras que ele pratica, proferindo contra nós palavras maliciosas. E, não satisfeito com estas coisas, nem ele mesmo acolhe os irmãos, como impede os que querem recebê-los e os expulsa da igreja".

Diótrefes anelava ser o preeminente em sua congregação (talvez até mais do que isso). Portanto, ele via qualquer outra pessoa que tinha autoridade de ensino – incluindo o apóstolo amado – como uma ameaça ao seu poder. João havia escrito uma carta de instrução e encorajamento à igreja, mas, por causa do desejo de Diótrefes por glória pessoal, ele rejeitou o que o apóstolo tinha a dizer. Evidentemente, ele reteve da igreja a carta de João. Parece que ele manteve em segredo a própria existência da carta. Talvez ele a destruiu. Por isso, João escreveu sua terceira epístola inspirada para, em parte, falar a Gaio sobre a existência da carta anterior.

Na verdade, o egoísmo de Diótrefes o tornou culpado do mais pernicioso tipo de heresia: ele rejeitou ativamente e se opôs à doutrina apostólica. Por isso, João condenou Diótrefes em quatro atitudes: ele rejeitou o ensino apostólico; fez acusações injustas contra um apóstolo; foi inóspito para com os irmãos e excluiu aqueles que não concordavam com seu desafio a autoridade de João. Em todo sentido imaginável, Diótrefes era culpado da mais obscura heresia, e todos os seus erros eram frutos de egocentrismo.

Em nosso estado caído, estado de carnalidade, somos todos assediados por uma tendência para o egocentrismo. Isto não é uma ofensa insignificante, nem um pequeno defeito de caráter, nem uma ameaça irrelevante à saúde de nossa fé. Diótrefes ilustra a verdade de que o amor próprio é a mãe de todas as heresias. Todo falso ensino e toda rebelião contra a autoridade de Deus estão, em última análise, arraigados em um desejo carnal de ter a preeminência – de fato, um desejo de reivindicar para si mesmo aquela glória que pertence legitimamente a Cristo. Toda igreja herética que já vimos tem procurado suplantar a verdade e a autoridade de Deus com seu próprio ego pretensioso.

De fato, o egocentrismo é herético porque é a própria antítese de tudo que Jesus ensinou ou exemplificou. E produz sementes que dão origem a todas as outras heresias imagináveis. Portanto, não há lugar para egocentrismo na igreja. Tudo no evangelho, tudo que igreja tem de ser e tudo que aprendemos do exemplo de Cristo golpeia a raiz do orgulho e do egocentrismo humano.

Koinonia
As descrições bíblicas de comunhão na igreja do Novo Testamento usam a palavra grega koinonia. O espírito gracioso que essa palavra descreve é o extremo oposto do egocentrismo. Traduzida diferentemente por "comunhão", "compartilhamento", "cooperação" e "contribuição", esta palavra é derivada dekoinos, a palavra grega que significa "comum". Ela denota as ideias de compartilhamento, comunidade, participação conjunta, sacrifício em favor de outros e dar de si para o bem comum.

Koinonia era uma das quatro atividades essenciais que mantinha os primeiros cristãos juntos: "E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão [koinonia], no partir do pão e nas orações" (At 2.42). O âmago da "comunhão" na igreja do Novo Testamento era culto e sacrifício uns pelos outros, e não festividade ou funções sociais. A palavra em si mesma deixava isso claro nas culturas de fala grega. Ela foi usada em Romanos 15.26 para falar de "uma coleta em benefício dos pobres" (ver também 2 Co 9.3). Em 2 Coríntios 8.4, Paulo elogiou as igrejas da Macedônia por "participarem [koinonia] da assistência aos santos". Hebreus 13.16 diz: "Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação [koinonia]". Claramente, o egocentrismo é hostil à noção bíblica de comunhão cristã.

Uns aos outros
Esse fato é ressaltado também pelos muitos "uns aos outros" que lemos no Novo Testamento. Somos ordenados: a amar "uns aos outros" (Jo 13.34-35; 15.12, 17); a não julgar "uns aos outros" e ter o propósito de não por tropeço ou escândalo ao irmão (Rm 14.13); a seguir "as coisas da paz e também as da edificação de uns para com os outros" (Rm 14.19); a ter "o mesmo sentir de uns para com os outros" e acolher "uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus" (Rm 15.5, 7). Somos instruídos a levar "as cargas uns dos outros" (Gl 6.2); a sermos benignos uns para com os outros, "perdoando... uns aos outros" (Ef 4.32); e a sujeitar-nos "uns aos outros no temor de Cristo" (Ef 5.21). Em resumo, "Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo" (Fp 2.3).

No Novo Testamento, há muitos mandamentos semelhantes que governam nossos relacionamentos mútuos na igreja. Todos eles exigem altruísmo, sacrifício e serviço aos outros. Combinados, eles excluem definitivamente toda expressão de egocentrismo na comunhão de crentes.

Cristo como cabeça de seu corpo, a igreja
No entanto, isso não é tudo. O apóstolo Paulo comparou a igreja com um corpo que tem muitas partes, mas uma só cabeça: Cristo. Logo depois de afirmar, enfaticamente, a deidade, a eternidade e a proeminência absoluta de Cristo, Paulo escreveu: "Ele é a cabeça do corpo, da igreja" (Cl 1.18). Deus "pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo" (Cl 1.22-23). Cristãos individuais são como partes do corpo, existem não para si mesmos, mas para o bem de todo o corpo: "Todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor" (Ef 4.16).

Além disso, cada parte é dependente de todas as outras, e todas estão sujeitas à Cabeça. Somente a Cabeça é preeminente, e, além disso, "se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam" (1 Co 12.26).

Até aquelas partes do corpo aparentemente insignificantes são importantes (vv. 12-20). "Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve. Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo?" (vv. 18-19).

Qualquer evidência de egoísmo é uma traição de não somente o resto do corpo, mas também da Cabeça. Essa figura torna o altruísmo humilde em virtude elevada na igreja – e exclui completamente qualquer tipo de egocentrismo.

Escravos de Cristo
A linguagem de escravo do Novo Testamento enfatiza, igualmente, esta verdade. Os cristãos não são apenas membros de um corpo, sujeitos uns aos outros e chamados à comunhão de sacrifício. Somos também escravos de Cristo, comprados com seu sangue, propriedade dele e, por isso, sujeitos ao seu senhorio.

Escrevi um livro inteiro sobre este assunto. Há uma tendência, eu receio, de tentarmos abrandar a terminologia que a Escritura usa porque – sejamos honestos – a figura de escravo é ofensiva. Ela não era menos inquietante na época do Novo Testamento. Ninguém queria ser escravo, e a instituição da escravidão romana era notoriamente abusiva.

No entanto, em todo o Novo Testamento, o relacionamento do crente com Cristo é retratado como uma relação de senhor e escravo. Isso envolve total submissão ao senhorio dele, é claro. Também exclui toda sugestão de orgulho, egoísmo, independência ou egocentrismo. Está é simplesmente mais uma razão por que nenhum tipo de egocentrismo tem lugar na vida da igreja.

O próprio senhor Jesus ensinou claramente este princípio. Seu convite a possíveis discípulos foi uma chamada à total autorrenúncia: "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me" (Lc 9.23).

Os doze não foram rápidos para aprender essa lição, e a interação deles uns com os outros foi apimentada com disputas a respeito de quem era o maior, quem poderia ocupar os principais assentos no reino e expressões semelhantes de disputas egocêntricas. Por isso, na noite de sua traição, Jesus tomou uma toalha e uma bacia e lavou os pés dos discípulos. Sua admoestação para eles, na ocasião, é um poderoso argumento contra qualquer sussurro de egocentrismo no coração de qualquer discípulo: "Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também" (Jo 13.14-15).

Foi um argumento do maior para o menor. Se o eterno Senhor da glória se mostrou disposto a tomar uma toalha e lavar os pés sujos de seus discípulos, então, aqueles que se chamam discípulos de Cristo não devem, de maneira alguma, buscar preeminência para si mesmos. Cristo é nosso modelo, e não Diótrefes.

Não posso terminar sem ressaltar que este princípio tem uma aplicação específica para aqueles que estão em posições de liderança na igreja. É um lembrete especialmente vital nesta era de líderes religiosos que são superestrelas e pastores jovens que agem como estrelas de rock. Se Deus chamou você para ser um presbítero ou mestre na igreja, ele o chamou não para sua própria celebridade ou engrandecimento. Deus o chamou a fazer isso para a glória dele mesmo. Nossa comissão é pregar não "a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos [escravos], por amor de Jesus" (2 Co 4.5).

fonte: www.editorafiel.com.br

domingo, 6 de maio de 2012

A importância do estudo de Deus

Há uma maneira certa e uma errada de aproximarmo-nos da doutrina de Deus. Podemos estudar a Deus com um microscópio ou um telescópio. Um microscópio faz uma coisa bem pequena parecer grande. Mas essa não é a maneira de magnificarmos a Deus.Quando fazemos isso, somo como cientistas em um laboratório que magnificam algo minúsculo em benefício da categorização científica. Nós, porém, não somos maiores do que Deus, capazes de enumerar e dar nomes às suas partes. Em vez disso, devemos estudar os atributos de Deus como os astrônomos estudam os corpos celestes - por meio de um telescópio. As lentes do telescópio nos capacitam a ver como algo é muito maior e muito mais admirável do que imaginamos a princípio. 

Quando estudamos a doutrina de Deus, deve haver um senso de temor em nosso coração. Devemos ser como crianças que com um telescópio contemplam o céu estrelado. Assim, ficaremos cheios de admiração ante o fato de que Alguém tão grande - tão transcendente - pode ser visto e conhecido por nós. Sentiremos corretamente como somos pequenos e insignificantes, quando compreendermos quão grande e poderoso é realmente o Deus que contemplamos.

Quanto mais você aprender quem Deus é, verdadeiramente, tanto mais incrível se tornará o convite dele para que o conheça. Quando você conhece a Deus como o infinito, todo-poderoso, santo e eterno Deus do céu, o anúncio de que Ele o ama assume um significado totalmente novo. Isso não é algo esperado, não é algo vulgar. É a causa de admiração.

O Alto e Sublime oferece aproximar-se daqueles que são humildes. Ele enviou seu filho para morrer a fim de que o Perfeito em santidade pudesse habitar em nós. Deus está perto. Mas não podemos administrá-lo nem contê-lo. Ele não está em nossos bolsos. O Todo-Poderoso nos segura em suas mãos.

(Extraído de HARRIS, Joshua. Cave mais fundo: o que você acredita? Por que isso importa? Editora Fiel, 2011, pgs. 86-87.)



quinta-feira, 3 de maio de 2012

Amor selvagem de Deus


Justificação pela graça mediante a fé” é a frase erudita dos teólogos para o que Chesterton chamou certa vez de “amor selvagem de Deus”. Ele não é instável nem caprichoso, não conhece épocas de mudança. Deus tem um único posicionamento inflexível com relação a nós: ele nos ama. Ele é o único Deus jamais conhecido pelo homem que ama pecadores. Falsos deuses – criados pelos homens – desprezam os pecadores, mas o Pai de Jesus ama a todos, não importa o que façam. Isso é naturalmente incrível demais para aceitar. No entanto, a afirmação central da Reforma permanece: não por qualquer mérito nosso, mas pela sua bondade, tivemos nosso relacionamento restaurado com Deus por meio da vida, da morte e da ressurreição do seu amado Filho. Essa é a boa-nova, o evangelho da graça.

Com sua característica joie de vivre, Robert Capon¹ coloca da seguinte forma: “A Reforma foi uma ocasião em que os homens ficaram cegos, embriagados por descobrir, no porão empoeirado do medievalismo tardio, uma adega repleta de graça envelhecida mil e quinhentos anos, com teor alcoólico 100% - garrafa após garrafa de pura Escritura destilada, um gole da qual bastava para convencer qualquer um de que Deus nos salva sem precisar de ajuda. A palavra do evangelho – depois de todos aqueles séculos de tentar elevar-se ao céu preocupando-se com a perfeição de seus cadarços – tornou-se repentinamente um anúncio direto de que os salvos já estavam em casa mesmo antes de começarem (…). A graça deve ser bebida pura: sem água, sem gelo, e seguramente sem água tônica; não se permite que nem bondade, nem maldade, nem as flores que desabrocham na primavera da superespiritualidade entrem no preparado.”

¹ Robert Farrar CAPON, citado por Brennan Manning, pg.21

(extraído de Manning, Brennan, O Evangelho Maltrapilho. São Paulo: Mundo Cristão, 2005)