terça-feira, 22 de maio de 2012

Discurso filosófico em oposição à verdade revelada de Deus

E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria” (1 Coríntios 2:1)


No capítulo 1 da primeira carta aos Coríntios, Paulo chamou a atenção para o conteúdo do evangelho e o identificou com a expressão da sabedoria de Deus. Já no capítulo 2, Paulo chama a atenção para a maneira da apresentação do ensino de Cristo. Nem a “sublimidade de palavras” (ou eloquência, hyperochen logou: uma poderosa oratória) (1Co 2.1), nem a “sabedoria”, ou a sabedoria superior, conforme algumas versões (o significado provável de sophia aqui é “discurso filosófico”) são relevantes.

Esse ponto é importante porque na cultura helenística a habilidade de um orador era sempre julgada como mais importante do que o conteúdo do seu discurso, e, em muitos casos, nos tribunais o veredicto era mais favorável ao advogado cuja oratória era poderosa do que àquele que possuía o direito ao seu lado. Mas quando se trata da apresentação do evangelho, a mensagem é mais importante do que o mensageiro. É a verdade do evangelho que move as pessoas. A validade de nosso testemunho não se sustenta ou cai dependendo de nossa aparência, ou de nossa habilidade de discursar.

Os muitos cristãos modernos também podem dar mais importância ao mensageiro do que à mensagem. “Eu gosto muito da forma como essa pessoa prega...” - essa é uma expressão que mostra que, para alguns, a maneira de pregar pode parecer muito mais importante do que o conteúdo do sermão. O que devemos considerar é se o sermão nos desafia, nos ensina e nos chama para um modo de vida transformado.

Mas falamos a sabedoria de Deus oculta em mistério” (1Co 2:7). O que caracteriza a sabedoria de Deus? Paulo tem quatro coisas importantes a dizer sobre ela:

  1. ela está contida em mysterion – ela é uma sabedoria oculta em mistério. O termo refere-se à verdade inacessível aos seres humanos, mas agora revelada a todos em Cristo;

  2. oculta em mistério”. Até a encarnação, Deus ocultou em vez de revelar aquela parte de seu plano eterno que agora foi revelado em Jesus;

  3. nenhum dos príncipes deste mundo conheceu” (1Co 2:8). Paulo quer dizer que a sabedoria de Deus permanece oculta àqueles que se recusam a crer. Embora revelada àqueles que estão comprometidos com a maneira como o homem vê o universo, simplesmente não conseguem “enxergar” o evangelho;

  4. finalmente, embora fora de ordem, a sabedoria de Deus tem como finalidade nossa glória (1Co 2:7). Ao firmamos nossa posição junto à sabedoria divina, somos assegurados da salvação definitiva que nos foi prometida, porque seremos transformados na própria imagem de Cristo na presença do nosso Deus.
Que contraste com a sabedoria humana, restrita como é não só por poderes insignificantes, mas também por nossa própria incapacidade de enxergar a realidade que reside além do mundo físico e social no qual vivemos.

Que loucos seremos se deixarmos que os argumentos de meros seres humanos nos desviem, de alguma forma, de nosso compromisso com a verdade revelada de Deus!

Referência

RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro:CPAD, 2008, 3ª ed

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