segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Obstáculos para vir a Cristo

[Arthur W. Pink]

Ninguém pode vir a mim” (João 6:44).

O homem natural é incapaz de "vir a Cristo". Citemos João 6:44, "Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer." A razão pela qual "duro é esse discurso", até mesmo para milhares que professam ser cristãos, é que eles fracassam completamente em compreender o terrível estrago que a queda provocou; e, o que é pior, eles mesmos não se dão contam da "chaga" que existe nos seus próprios corações (1 Rs. 8:38). Certamente se o Espírito já os tivesse despertado do sono da morte espiritual, e lhes dado ver alguma coisa do pavoroso estado em que estão por natureza, e feito sentir que suas "mentes carnais" são “inimizade contra Deus” (Rm. 8:7), então eles não mais discordariam dessa solene palavra de Cristo. Mas aquele que está espiritualmente morto não pode ver nem sentir espiritualmente.
Onde reside a total incapacidade do homem natural? Ela não está na falta das faculdades necessárias. Isso tem de ser bastante enfatizado, do contrário o homem caído deixaria de ser uma criatura responsável. Mesmo que os efeitos da queda tenham sido terríveis, eles não privaram o homem de nenhuma das faculdades que Deus originalmente lhe concedeu. É verdade que o pecado tirou do homem a capacidade de utilizar essas faculdades corretamente, ou seja, empregá-las para a glória do Criador. Entretanto, o homem caído possui ainda a mesma natureza, corpo, alma e espírito, que tinha antes da Queda. Nenhuma parte do ser do homem foi aniquilada, ainda que cada uma tenha sido contaminada e corrompida pelo pecado. De fato, o homem morreu espiritualmente, mas a morte não é a extinção do ser (aniquilação) — morte espiritual é a alienação de Deus (Ef. 4:18). Aquele que é espiritualmente morto está bem vivo e ativo no serviço de Satanás.
A incapacidade do homem caído (não regenerado) de vir a Cristo não reside em nenhum defeito físico ou mental. Ele tem o mesmo pé para levá-lo tanto a um local onde o Evangelho é pregado, como para caminhar até um bar. Ele possui os mesmos olhos que podem lhe servir para ler tanto as Escrituras Sagradas como os jornais. Ele tem os mesmos lábios e voz para clamar a Deus os quais usa agora em conversas fiadas e em canções ridículas. Assim, também, possui as mesmas faculdades mentais para ponderar sobre as coisas de Deus e sobre a eternidade, as quais ele utiliza tão diligentemente nos seus negócios. É por causa disso que o homem é "indesculpável". É o mau uso das faculdades que o Criador lhe concedeu que aumenta a sua culpa. Que cada servo de Deus veja que essas coisas pesam constantemente sobre os seus ouvintes não convertidos.

1) A incapacidade do homem está na sua natureza corrompida.
Nós temos de ir bem mais a fundo se quisermos encontrar a fonte da incapacidade do homem. Devido à queda de Adão, e por causa do nosso próprio pecado, a nossa natureza se tornou tão corrompida e depravada que é impossível para qualquer homem "vir a Cristo", amá-lo e servi-lo, estimá-lo mais que tudo neste mundo e submeter-se a Ele, até que o Espírito de Deus o regenere e implante nele uma nova natureza. A fonte amarga não pode jorrar água doce, nem a árvore má produzir bons frutos. Deixe-me tentar explicar isso melhor através de uma ilustração. É da natureza de um abutre alimentar-se de carniça; no entanto, ele tem os mesmos órgãos e membros que lhe permitiriam comer grãos, como fazem as galinhas, mas ele não possui nem a disposição nem o apetite para tal alimento. É da natureza da porca o chafurdar na lama; e apesar dela possuir pernas como a ovelha para levá-la à campina, lhe falta entretanto o desejo por pastos verdejantes. Assim acontece com o homem não-regenerado. Ele tem as mesmas faculdades físicas e mentais que o homem regenerado possui para empregar no serviço e nas coisas de Deus, mas não tem amor por elas.
"Adão... gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem" (Gn. 5:3). Que terrível contraste há aqui com o que lemos dois versículos antes: "... Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez". No intervalo entre esses dois versos, o homem caiu, e um pai caído pode gerar somente um filho caído, transmitindo-lhe a sua própria depravação. "Quem da imundícia poderá tirar coisa pura?" (Jó 14:4). Por isso nós encontramos o salmista de Israel declarando, "Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe" (Sl. 51:5). No entanto, apesar de por natureza Davi ser um monte de iniquidade e pecado (como também somos nós), mas tarde a graça fez dele o homem segundo o coração de Deus. Desde que idade essa corrupção da natureza aparece nas crianças? "Até a criança se dá a conhecer pelas suas obras" (Pv. 20:11). A corrupção do seu coração logo se manifesta: orgulho, vontade própria, vaidade, mentira, aversão ao que é bom, são frutos amargos que cedo brotam no novo, mas corrupto, ramo.

2)
A incapacidade do homem está na completa escuridão em que se encontra o seu intelecto.
 Essa importante faculdade da alma foi destituída da sua glória original, e coberta de confusão. Tanto a mente como a consciência estão corrompidas: "Não há quem entenda"(Rm. 3:11). O apóstolo solenemente lembra os santos, "Pois outrora éreis trevas" (Ef. 5:8), não somente estavam "em trevas", mas eram as própria "trevas". O pecado fechou as janelas da alma e a escuridão se estende por todo o lugar: ela é a região das trevas e da sombra da morte, onde a luz é como a escuridão. Lá reina o príncipe das trevas, onde não se pratica nada além das obras das trevas. Nós nascemos espiritualmente cegos, e não podemos ter essa visão restaurada sem um milagre da graça. Esse é o seu caso quem quer que você seja, se ainda não nasceu de novo" (Thomas Boston, 1680). "São filhos sábios para o mal, e não sabem fazer o bem" (Jr. 4:22).
"O pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar" (Rm. 8:7). Existe no homem não regenerado uma oposição e aversão pelas coisas espirituais. Deus revelou a Sua vontade aos pecadores no tocante ao caminho da salvação, contudo eles não trilharão esse caminho. Eles sabem que somente Cristo é capaz de salvá-los, no entanto eles recusam se separar das coisas que obstruem o seu caminho até a Ele. Eles ouvem que é o pecado que mata a alma, no entanto o afagam em seu peito. Eles não dão ouvidos às ameaças de Deus. Os homens acreditam que o fogo há de consumir-lhes, e estão em grande tormento para evitá-lo; contudo, mostram com suas ações que consideram as chamas eternas como se fossem um mero espantalho. O mandamento divino é "santo, justo e bom", mas o homem o odeia, e só o observa enquanto a sua respeitabilidade é promovida entre os homens.

3) A incapacidade do homem está na corrupção dos seus sentimentos.
O homem, no estado em que se encontra, antes de receber a graça de Deus, ama tudo e qualquer coisa que não seja espiritual. Se você quiser uma prova disso, olhe ao seu redor. Não há necessidade de nenhum monumento à depravação dos sentimentos humanos. Olhe por toda parte. Não há uma rua, uma casa, e não somente isso, nenhum coração, que não possua uma triste evidência dessa terrível verdade. Por que no Dia do Senhor o homem não é encontrado congregando-se na casa de Deus? Por que não nos achamos mais frequentemente lendo nossas Bíblias? O que acontece para a oração ser um dever quase que totalmente negligenciado? Por que Jesus Cristo é tão pouco amado? Por que até mesmo os seus seguidores professos são tão frios em seus sentimentos para com Ele? De onde procedem essas coisas? Seguramente, caros irmãos, nós não podemos creditá-las a outra fonte que não a corrupção e a perversão dos sentimentos. Nós amamos o que deveríamos odiar, e odiamos o que deveríamos amar. Não é outra coisa senão a natureza humana caída que nos faz amar esta vida mais do que a vida por vir. É um efeito da Queda o fato do homem amar o pecado mais que a justiça, e os caminhos do mundo mais que os caminhos de Deus”. (Sermão de C.H. Spurgeon em Jo. 6:44).
Os sentimentos do homem não regenerado são totalmente depravados e desordenados. "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto" (Jr. 17:9). O Senhor Jesus afirmou solenemente que os sentimentos do homem caído (não regenerado) são a fonte de toda abominação: "Porque de dentro do coração do homem, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, a malícia, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura" (Mc. 7:21,22). Os sentimentos do homem natural estão miseravelmente deformados, ele é um monstro espiritual. O seu coração se encontra onde deveriam estar os seus pés, seguro ao chão; seus calcanhares estão levantados contra os Céus, para onde deveria estar posto o seu coração (At. 9:5). Sua face está voltada para o inferno; por isso Deus o chama para converter-se. Ele se alegra com o que deveria entristecê-lo, e se entristece com o que deveria alegrá-lo; se gloria com a vergonha, e se envergonha da sua glória; abomina o que deveria desejar, e deseja o que deveria abominar (Pv. 2:13-15) (extraído do Boston’s Fourfold State).

4) Sua incapacidade está na total perversão da sua vontade.
"O homem pode ser salvo se ele quiser", diz o arminiano. Nós lhe respondemos, "Meu caro senhor, nós todos cremos nisso; mas essa é que é a dificuldade — se ele quiser." Nós afirmamos que nenhum homem deseja vir a Cristo por sua própria vontade; não, não somos nós que o dizemos, mas Cristo mesmo declara: "Contudo não quereis vir a mim para terdes vida" (Jo. 5:40); e enquanto esse "não quereis vir" estiver registrado nas Escrituras nós não podemos ser levados a crer em nenhuma doutrina do livre arbítrio. "É estranho como as pessoas, quando falam sobre livre arbítrio, falam de coisas das quais nada compreendem. Um diz "Ora, eu creio que o homem pode ser salvo ser ele quiser". Mas essa não é toda a questão. O problema é: é o homem naturalmente disposto a se submeter aos termos do Evangelho de Cristo? Afirmamos, com autoridade bíblica, que a vontade humana é tão desesperadamente dada ao engano, tão depravada, e tão inclinada para tudo que é mau, e tão avessa a tudo aquilo que é bom, que sem a poderosa, sobrenatural e irresistível influência do Espírito Santo, nenhum homem nunca será constrangido a buscar a Cristo." (C.H. Spurgeon).
"Há uma corda de três pontas contra o céu e a santidade, que não é fácil de ser rompida; um homem cego, uma vontade pervertida, e um sentimento desordenado. A mente, inchada pela vaidade, diz que o homem não deve se humilhar; a vontade, inimiga da vontade de Deus, diz: ele não quer; as emoções corrompidas levantando-se contra o Senhor, em defesa da vontade corrompida diz: ele não irá. Assim a pobre criatura permanece irredutível contra Deus, até o dia do Seu poder, quando é feito nova criatura" (Thomas Boston).
Pode ser que alguns leitores sejam inclinados a dizer: "ensinamentos como estes desencorajam pecadores e os levam ao desespero". Nossa resposta é: Primeiro, eles estão de acordo com a Palavra de Deus! Segundo, esperamos que Ele se agrade em usar essas verdades para levar alguns a desesperarem-se de qualquer ajuda que possam encontrar neles mesmos. Terceiro, esse ensino manifesta a absoluta necessidade da obra do Espírito Santo nessas criaturas depravadas e espiritualmente impotentes, se algum dia vierem salvificamente a Cristo. Então, até que isso seja claramente entendido, o Seu auxílio nunca será realmente buscado.
Fonte: www.monergismo.com

domingo, 24 de fevereiro de 2013

O conhecimento de Deus



[C.H.Spurgeon]

“O estudo correto do eleito de Deus, é Deus. O estudo apropriado do cristão é a Divindade. A mais alta ciência, a mais elevada especulação, a mais poderosa filosofia que possa prender a atenção de um filho de Deus é o nome, a natureza, a pessoa, a obra, as ações e a existência do Grande Deus, a quem chamamos de Pai.

Nada melhor para o desenvolvimento da mente do que a contemplação da Divindade. Trata-se de um assunto tão vasto que todos os nossos pensamentos se perdem na sua imensidão, tão profundo que nosso orgulho desaparece em sua infinitude. Podemos compreender muitos temas, derivando deles uma certa satisfação pessoal e pensando enquanto seguimos nosso caminho: Olhe, sou um sábio !  Mas quando chegamos a esta ciência superior e descobrimos que nosso fio de prumo não consegue sondar sua profundidade e os nossos olhos de água não podem ver sua altura, nos afastamos pensando que o homem vaidoso pode ser sábio, mas não passa de potro selvagem, exclamando então solenemente: Nasci ontem e nada sei !

Nenhum tema contemplativo tende a humilhar mais a mente do que os pensamentos sobre Deus, ao mesmo tempo, porém, que este pensamento humilha a mente, ele também a expande. Aquele que pensa com freqüência em Deus, terá a mente mais aberta do que alguém que apenas caminha penosamente por este estreito globo. O melhor estudo para expandir a alma é a ciência de Cristo e este crucificado, e o conhecimento da Divindade na gloriosa Trindade. Nada alargará mais o intelecto, nada expandirá mais a alma do homem do que a investigação dedicada, ansiosa e contínua do grande tema da Divindade.

Ao  mesmo tempo que humilha e expande, este assunto é eminentemente consolador. Na contemplação de Cristo existe um bálsamo para cada ferida; na meditação sobre o Pai há consolo para todas as tristezas; e na influência do Espírito Santo há alivio para todas as mágoas.

Você quer esquecer sua tristeza ? Quer livrar-se dos seus cuidados ? Então vá atirar-se no mais profundo mar da Divindade de Deus. Perca-se na sua imensidão e sairá dele completamente refrescado e revigorado.

Não conheço coisa que possa confortar mais a alma, acalmar as ondas da tristeza e da mágoa, pacificar os ventos da provação, do que uma meditação piedosa a respeito da Divindade”.

Fonte: http://www.hermeneuticaparticular.com

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Programa de leitura bíblica para iniciantes


[R.C.Sproul]

Milhares de resoluções de “ano novo” já foram feitas e quebradas no que diz respeito à leitura bíblica. Promessas de ler a Bíblia de capa a capa são feitas e refeitas. Entretanto, permanece o fato de que a grande maioria dos cristãos professos nunca leu a Bíblia toda. A maioria já leu o Novo Testamento, mas poucos completaram o Antigo Testamento.

Por que os cristãos se tornaram tão negligentes no que se refere ao estudo bíblico? Será meramente uma questão de falta de disciplina ou de devoção? Isto pode ser parte do problema, o que, consequentemente, produz muita culpa entre os cristãos por deixarem de fazer o que deveriam estar fazendo. Penso, porém, que mais do que falta de disciplina, o problema está relacionado com o método de leitura.

Começamos nossa leitura bíblica com absoluta determinação e diligentemente lemos o livro de Gênesis. Gênesis fornece informações importantes sobre os fundamentos da história bíblica e continua suavemente ao longo da história dos patriarcas. Até aqui, tudo bem. Êxodo é cheio de drama, com proezas de Moisés e a libertação de Israel da tirania dos egípcios. Cecil B. DeMille e Charlton Heston1 deram a muitos de nós um senso da familiaridade com esses eventos. Na sequência temos levíticos. Aqui o quociente de perda de interesse começa a aumentar. Muitos que atravessam penosamente a leitura de Levíticos estão acabados quando chegam a Números. Uns poucos obstinados chegam até Deuteronômio e os últimos perseverantes atravessam todo o Antigo Testamento.

Na realidade, descobri que a maioria das pessoas que conseguem ler os primeiros cinco livros chega ao final do Antigo Testamento. A maior parte das pessoas desiste de ler o Antigo Testamento porque atola em Levítico e Números. As razões são óbvias. Estes livros tratam detalhadamente de questões de organização de Israel, inclusive listas extensas de leis casuísticas. Muito deste material é totalmente alheio a nós e torna a leitura difícil.

No entanto, a informação contida nestes livros é de importância crucial para comprendermos o alcance da história da redenção. Uma compreensão precisa do Novo Testamento depende de nosso conhecimento desses livros. De fato, uma vez adquirida uma compreensão global do alcance das Escrituras, descobriremos que Levítico e Números são fascinantes e deliciosamente interessantes. Mas sem esta compreensão geral os detalhes parecem não fazer nenhum sentido.

Para superar os problemas que muitos apresentam na leitura da Bíblia, sugiro uma rota alternativa para alcançar o objetivo – ler os livros bíblicos na ordem que se segue:

Gênesis                 (História da criação, queda e pacto na história dos patriarcas)
Êxodo                   (História da libertação e formação de Israel como povo de Deus)
Josué                     (História da conquista militar da terra prometida)
Juízes                    (História da transição da federação tribal para a monarquia)
1 Samuel               (História do início da monarquia com Samuel, Saul e Davi)
2 Samuel               (O reinado de Davi, idade de ouro de Israel)
1 Reis                    (História de Salomão e a divisão do reino)
2 Reis                    (História da queda de Israel e o início dos profetas)
Esdras                   (História do retorno do exílio)
Neemias                (História da restauração de Jerusalém)

Depois leia:

Amós e Oseias     (Exemplos de profetas menores)
Jeremias               (Exemplo de profeta maior)
Eclesiastes e
Cântico dos
Cânticos               (Exemplos de literatura de sabedoria)
Salmos e
Provérbios            (Exemplos de poesia hebraica)

Esta lista de leitura dá um sumário do Antigo Testamento e estabelece a estrutura para compreendê-lo. É o esqueleto ao qual se pode acrescentar a carne e os nervos dos outros livros após o término da leitura do Novo Testamento.

A seguir temos a lista esboçada para o Novo Testamento:

Evangelho de Lucas   (Vida e ensinos de Jesus)
Atos                          (História da igreja primitiva)
1 Coríntios                 (Introdução ao ensino de Paulo)
1 Pedro                     (O ensino da vida da igreja)
1 Timóteo                  (Introdução às epístolas pastorais)
Hebreus                     (Teologia de Cristo – Cristologia)
Romanos                   (Teologia paulina)

Tal como no caso do Antigo Testamento, esta relação proporciona uma familiaridade básica com as diversas partes do Novo Testamento. Após o término desta leitura, poderemos voltar e preencher o esqueleto.

É importante compreender a dinâmica da autodisciplina. Autodisciplina é mais facilmente adquirida quando primeiros nos colocamos sob a disciplina de outra pessoa. Para completar este programa introdutório seria sábio pedir a alguém que supervisionasse seu programa de leitura. Se for possível frequentar um curso ou classe de Escola Dominical na igreja, isto seria muito útil.


[1O autor se refere ao filme “Os Dez Mandamentos” (Paramount, 1956), superprodução dirigida por Cecil B. DeMille (1881-1959) e estrelada por Charlton Heston.



Fonte: SPROUL, R. C. O conhecimento das Escrituras: Passos para um estudo bíblico sério e eficaz. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. 143 p.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Redescobrindo o Antigo Evangelho


[J.I.Packer]

Não há dúvida que o mundo evangélico de nossos dias encontra-se em um estado de perplexidade e flutuação. Em questões como a prática do evangelismo, o ensino sobre a santidade, a edificação da vida das igrejas locais, a maneira dos pastores tratarem com as almas e exercerem a disciplina. Há evidências de uma insatisfação generalizada com as coisas conforme elas estão, bem como de uma ampla incerteza acerca do caminho à frente. Esse fenômeno é complexo, para o qual muitos fatores têm contribuído. Porém, se descermos à raiz da questão, descobriremos que essas perplexidades, em última análise, devem-se ao fato que temos perdido nossa compreensão do evangelho bíblico. Sem o percebermos, durante os últimos cem anos temos trocado o evangelho por outro que, embora lhe seja semelhante quanto a determinados pormenores, trata-se de algo inteiramente diferente. Daí surgem as nossas dificuldades, pois o outro evangelho não corresponde às finalidades para os quais o evangelho autêntico, no passado, mostrou-se tão poderoso. O novo evangelho fracassa notavelmente em produzir reverência profunda, arrependimento sincero, verdadeira humildade, espírito de adoração e interesse pela igreja. Por quê?

Sugerimos que a razão jaz no próprio caráter e conteúdo deste novo evangelho, o qual não leva os homens a terem pensamentos centrados em Deus, temendo-o em seus corações, mesmo porque, primariamente, não é isso que o novo evangelho procura fazer. Uma das maneiras de declararmos a diferença entre o novo e o antigo evangelho é afirmar que o novo está demasiadamente preocupado em “ajudar” o homem a produzir em si mesmo paz, consolo, felicidade e satisfação, e pouco preocupado em glorificar a Deus.

O antigo evangelho também prestava “ajuda”, de fato, até mais do que o novo. Mas fazia-o apenas incidentalmente, visto que glorificar a Deus sempre foi sua preocupação primária. Era sempre e essencialmente uma proclamação da soberania divina demonstrada em misericórdia e juízo, uma convocação para os homens prostrarem-se e adorarem o Todo-poderoso Senhor de quem eles dependem quanto a todo bem, tanto no âmbito da natureza quanto no âmbito da graça. Sem qualquer ambiguidade, o centro de referência do antigo evangelho era Deus. Porém, no novo evangelho o centro de referência é o homem. Isso é a mesma coisa que dizer que o antigo evangelho era religioso de uma maneira que o novo evangelho não o é. Enquanto que o alvo principal do antigo evangelho era ensinar o homem a adorarem a Deus, a preocupação do novo parece limitar-se a fazer os homens sentirem-se melhor. O assunto do antigo evangelho era Deus e os seus caminhos com os homens; o assunto do novo é o homem e a ajuda que Deus dá. Nisso há uma grande diferença. A perspectiva e a ênfase da pregação do evangelho foram completamente alteradas.

Dessa mudança de interesses originou-se a mudança de conteúdo, pois o novo evangelho na realidade reformulou a mensagem bíblica no suposto interesse de prestar “ajuda” ao homem. De acordo com isso, não são mais pregadas verdades bíblicas tais como a incapacidade natural do homem em crer, a eleição divina e gratuita como a causa final da salvação e a morte de Cristo especificamente pelas Suas ovelhas. Essas doutrinas, segundo o novo evangelho, não “ajudam” o homem, antes, contribuem para levar os pecadores ao desespero, sugerindo-lhes que eles não têm o poder de salvar a si mesmos através de Cristo (nem é considerada a possibilidade desse desespero ser salutar, pelo contrário, visto que destroçaria a nossa auto-estima). Sem importar a exatamente como seja a questão, o resultado dessas omissões é que apenas uma parcela do evangelho bíblico está sendo pregada como se fosse a totalidade do mesmo, e uma meia-verdade que se mascara como se fosse a verdade inteira torna-se uma mentira completa. Assim, apelamos aos homens como se eles todos tivessem a capacidade de receber Cristo a qualquer momento. Falamos sobre a obra remidora efetuada por Cristo como se Ele tivesse apenas morrido para capacitar-nos a salvar a nós mesmos, mediante o nosso crer. Falamos sobre o amor de Deus como se isso não fosse mais do que a disposição geral de receber qualquer um que queira voltar-se para Deus e confiar nEle. Retratamos o Pai e o Filho não como soberanamente ativos em atrair os pecadores a Si mesmos, mas como se Eles se mantivessem em quieta incapacidade, “a porta do nosso coração”, esperando nossa permissão para entrar.

É inegável que é dessa maneira que estamos pregando; talvez seja assim que de fato cremos. Porém, cumpre-nos dizer enfaticamente que esse conjunto de meias verdades distorcidas é algo totalmente diverso do evangelho bíblico. A Bíblia é contra nós quanto pregamos dessa maneira, e o fato que tal pregação tornou-se prática quase padronizada entre nós serve apenas para demonstrar quão urgentemente devemos rever essa questão. Redescobrir o antigo, autêntico e bíblico evangelho, fazendo nossa pregação e nossa prática ajustarem-se ao mesmo, talvez seja a nossa premente necessidade hoje.

Fonte: www.voltemosaoevangelho.com


sábado, 9 de fevereiro de 2013

O autoconhecimento e o conhecimento de Deus

[R.C. Sproul]

Quando um bebe nasce, sua entrada neste mundo geralmente é acompanhada por um forte tapa no traseiro. A resposta normal da criança é um estridente grito de protesto. Por que o bebe chora? O choro é uma resposta à dor? Ou o medo? Ou de raiva?

Talvez o choro seja provocado por todas as razões acima. Nossa entrada no mundo é marcada por som e fúria. Esse protesto inicial é considerado por alguns como a soma não só do significado do nascimento, mas do significado de toda a vida. Macbeth ponderou:

A vida não é mais do que um caminhar nas sombras,
um pobre ator que anda pomposo e aborrecido pelo palco,
e depois não é mais ouvido; é como uma fábula
contada por um idiota, cheia de sons e de paixão,
mas sem nenhum significado.

Significar nada é ser total e completamente insignificante. Ser insignificante é ser sem sentido. Ser sem sentido é ser sem valor ou sem dignidade.

Minha significação e a sua estão relacionadas com as perguntas quem somos e o que somos nós. É uma questão de identidade. Minha identidade, em última análise, está ligada ao meu relacionamento com Deus. Não posso entender quem ou o que sou sem entender quem ou o que Deus é.

Existe uma dependencia mútua entre nosso conhecimento de nós mesmos e nosso conhecimento de Deus. Assim que me torno consciente de mim mesmo, como indivíduo, descubro que não sou Deus; sou uma criatura. Tenho uma data de nascimento, ou seja, um momento em que minha vida começou aqui na terra. A lápide no meu túmulo não terá gravada eternidade como meu ponto de partida. […]

Minha consciência de que sou uma criatura dirige meus pensamentos até o Criador, ou para “cima”. Não posso contemplar Deus ou qualquer outra coisa além de mim até que primeiro esteja consciente de mim mesmo. Mesmo assim, não posso captar plenamente o sentido do meu próprio ser enquanto não entender a mim mesmo em relação a Deus. Finalmente então, a antropologia, o estudo da humanidade, é uma subdivisão da teologia, o estudo de Deus.

A crise da humanidade moderna encontra-se na ruptura entre a antropologia e a teologia – entre o estudo dos seres humanos e o estudo de Deus. Quando nossa história é contada isoldamente ou divorciada da história de Deus, então realmente ela se torna “uma fábula, contada por um idiota, cheia de sons e de paixão, mas sem nenhum significado”. Se somos considerados sem qualquer referencia a Deus, tornamo-nos uma “paixão inútil”, como declarou o filósofo Jean-Paul Sartre.

O que é uma "paixão inútil"? Paixão é um sentimento intenso. A vida humana é marcada por sentimentos intensos, que incluem paixões como amor, ódio, medo, culpa, ambição, cobiça, inveja, ciúme e muitas outras. Como criaturas, temos sentimentos intensos concernentes à nossa vida. Uma pergunta nos assalta constantemente: Será que todos esses sentimentos são inúteis? Será que todo nosso esforço e cuidado é meramente um exercício de futilidade, uma excursão à nulidade?

O significado da nossa vida está em jogo. Nossa dignidade está em questão. Se os seres humanos são considerados isoladamente, separados do relacionamento com Deus, então permanecem sozinhos e insignificantes. Se não somos criaturas feitas por Deus e relacionadas com ele, somos meros acidentes cósmicos. Nossa origem seria insignificante e nosso destino seria igualmente insignificante. Se emergirmos do limo por acidente e finalmente nos desintegramos num vácuo ou num abismo cheio de nada, então vivemos nossas vidas entre dois extremos de absoluto vazio. Somos zeros despojados, desnudos e desprovidos de dignidade e de valor.

Atribuir dignidade temporária a um ser humano, quer dizer, entre os dois extremos de uma origem sem sentido e um destino sem sentido é entregarmo-nos a um sentimento simples: importunamo-nos a enganar a nós mesmos.

Nossa origem e nosso destino estão atados a Deus. O significado único e final que podemos ter tem de ser teológico. A pergunta que formulamos foi feita pelo salmista:

Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres? E o Filho do homem, que o visites? Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste.” (Salmo 8.3-5)

Ser criado por Deus é estar relacionado com Deus. Esse relacionamento inescapável assegura que não somos nenhum ruído ou sentimento inútil. Na criação, recebemos uma coroa de glória. Uma coroa de glória é uma tiara de dignidade. Com Deus, temos dignidade; sem Deus, não somos nada.



SUMÁRIO
1. Não podemos conhecer a Deus sem primeiro estarmos conscientes de nós mesmos.

2. Não podemos conhecer profundamente a nós mesmos sem primeiro conhecer a Deus.


3. Seres humanos relacionados com Deus: Origem com propósito + destino com propósito = Vida significativa.

4. Seres humanos sem relação com Deus: Origem sem sentido + destino sem sentido = Vida sem sentido.

FONTE:  SPROUL, R. C. Verdades essenciais da fé cristã: doutrinas básicas em linguagem simples e prática. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. 3 v.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Quando se ora erradamente

Algumas vezes ora-se não só em vão, mas também errado. Vejamos o exemplo: Israel fora derrotado em Ai, e “Josué rasgou as suas vestes, e se prostrou em terra sobre o seu rosto perante a arca do Senhor até à tarde, ele e os anciãos de Israel; e deitaram pó sobre as suas cabeças” (Josué 7:6).

De acordo com a nossa atual filosofia do reavivamento, isso era o que devia ser feito e, uma vez que isso se fizesse continuamente, é certo que convenceria a Deus e Ele acabaria concedendo aquela bênção. Mas, “disse o Senhor a Josué: Levanta-te; por que estás prostrado assim sobre o teu rosto? Israel pecou, e violaram a minha aliança, aquilo que eu lhes ordenara... Dispõe-te, santifica o povo, e dize: Santificai-vos para amanhã, porque assim diz o Senhor Deus de Israel: ...aos vossos inimigos não podereis resistir enquanto não eliminardes do vosso meio as cousas condenadas” (Josué 7:10-13).

Precisamos de uma reforma dentro da Igreja. Pedir que um dilúvio de bênçãos caia sobre uma igreja desobediente e decaída é desperdiçar tempo e energias. Nova onda de interesse religioso apenas conseguirá adicionar números às igrejas que não tencionam submeter-se à soberania de Jesus e nem buscam obedecer aos mandamentos dEle. Deus não está interessado tanto em aumentar a freqüência às igrejas, mas em fazer com que tais pessoas emendem seus caminhos e comecem a viver santamente.

Certa vez o Senhor pela boca do profeta Isaías disse palavras que aclaram este assunto de uma vez por todas: “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? diz o Senhor. Estou farto dos holocaustos de carneiro, e da gordura de animais cevados, e não me agrado do sangue dos novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as luas novas, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene... Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos: cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas... Se quiserdes, e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra.” (Isaías 1:11-17,19.)

Os rogos, pedindo reavivamento, só serão ouvidos quando acompanhados de uma radical emenda ou reforma de vida; nunca antes. Reuniões de oração que atravessam a noite mas não são precedidas de verdadeiro arrependimento só podem desagradar a Deus. “O obedecer é melhor do que o sacrificar.” (1 Samuel 15:22.)

Urge voltarmos ao cristianismo do Novo Testamento, não apenas no que respeita ao credo mas também na maneira completa de viver. Separação, obediência, humildade, naturalidade, seriedade, autodomínio, modéstia, longanimidade: tudo isso precisa ser novamente parte vivificante do conceito total do cristianismo e aparecer no viver cotidiano. Precisamos purificar o templo, tirando de dentro dele os mercenários e os cambiadores, e ficarmos outra vez inteiramente sob a autoridade do Senhor ressurreto. E isto que aqui agora dizemos aplica-se a quem escreve estas linhas, bem como a cada um dos que invocam o nome de Jesus. Daí, sim, poderemos orar em plena confiança, e aguardar o verdadeiro reavivamento que certo virá.


Fonte: TOZER, A. W. O caminho do poder espiritual. 4ª ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1985. (Série A.W.Tozer, vol.1 ).




quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Por que estudar a Bíblia?


Uma questão de dever,  por R.C.Sproul

Eu poderia pleitear com você que estudasse sua Bíblia para sua edificação pessoal; poderia tentar a arte da persuasão para estimulá-lo na procura da felicidade. Poderia afirmar que o estudo da Bíblia se constituiria na mais realizadora e compensadora experiência educacional de sua vida. Poderia citar numerosas razões pelas quais você se beneficiaria com um estudo sério da Palavra de Deus. Mas, em última instância, a razão principal por que devemos estudar a Bíblia é o fato de que esse é o nosso dever.

Se a Bíblia fosse o livro mais enfadonho do mundo, monótomo, desinteressante e, segundo as aparências, irrelevante, ainda assim seria nosso dever estudá-lo. Se o seu estilo literário fosse esquisito e confuso, o dever ainda permaneceria. Como seres humanos vivemos sob a obrigação, por mandato divino, de estudar diligentemente a Palavra de Deus. Ele é o nosso Soberano, essa é a sua Palavra e ele ordena que a estudemos. Um dever não é uma opção. Se você não decidiu ainda a responder a esse dever, peça a Deus que o perdoe e resolve atendê-lo de hoje em diante.


Fonte: SPROUL, R. C. O conhecimento das Escrituras: Passos para um estudo bíblico eficaz. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. 143 p.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Amar a Deus


 “Estou seguro, Senhor, de que te amo; disso não tenho dúvidas. Tocaste-me o coração com tua palavra, e comecei a amar-te. O céu, a terra e tudo o que neles existe dizem-me por toda parte que te ame, a não cessam de repetí-lo a todos os homens 'de modo que eles não tem desculpa' [Rm 1.20 (…)]. Mas, que eu amo quando te amo? Não uma beleza corporal ou uma graça transitória, nem o esplendor da luz, tão cara aos meus olhos, nem as doces melodias de variadas cantilenas, nem o suave odor das flores, os unguentos, dos aromas, nem o maná ou o mel, nem os membros tão suscetíveis às carícias carnais. Nada disso eu amo, quando amo o meu Deus. E contudo, amo a luz, a voz, o perfume, o alimento e o abraço, quando amo o meu Deus: a luz, a voz, o odor, o alimento, o abraço do homem interior que habita em mim, onde para a minha alma brilha uma luz que nenhum espaço contém, onde ressoa uma voz que o tempo não destrói, de onde exala um perfume que o tempo não dissipa, onde se saboreia uma comida que o apetite não diminui, onde se estabelece um contato que a sociedade não desfaz. Eis o que amo quando amo o meu Deus” (Santo Agostinho) 


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A Lei de Deus



[R.C.Sproul]

Deus governa seu universo por meio de leis. A própria natureza opera sob seu governo providencial. As assim chamadas leis da natureza descrevem meramente a maneira normal de Deus estabelecer a ordem em seu universo. Essas “leis” são expressões da sua vontade soberana.

Deus não está sujeito a nenhuma lei fora de si mesmo. Não existe nenhuma regra cósmica independente a qual Deus seja obrigado a obedecer. Ao contrário, Deus é a sua própria lei. Isso significa simplesmente que ele age de acordo com seu próprio caráter moral, o qual não é só moralmente perfeito, mas também é o padrão supremo da perfeição. Suas ações são perfeitas porque a sua natureza é perfeita e ele sempre age de acordo com sua natureza. Portanto, Deus nunca é arbitrário, extravagante ou caprichoso. Ele sempre faz o que é certo.

Como criaturas de Deus, também se requer de nós que façamos o que é certo. Deus exige que vivamos segundo sua lei moral, a qual ele nos revelou na Bíblia. A lei de Deus é o padrão supremo de justiça e a norma suprema para se julgar o certo e o errado. Como nosso criador soberano, Deus tem autoridade para impor obrigações sobre nós, exigir nossa obediência e obrigar nossa consciência. Deus também tem o poder e o direito de punir a desobediência quando violamos sua lei (pecado pode ser definido como desobediência à lei de Deus).

Algumas leis na Bíblia são baseadas diretamente no caráter de Deus. Tais leis refletem os elementos transculturais e permanentes das relações divinas e humanas. Outras leis foram planejadas de acordo com condições temporárias da sociedade. Isso significa que algumas leis são absolutas e eternas, enquanto que outras podem ser anuladas por Deus por razões históricas, tais como as leis alimentares e cerimoniais de Israel. Somente o próprio Deus pode revogar tais leis. Os seres humanos em hipótese alguma têm a autoridade para anular as leis de Deus.

Não somos autônomos. Ou seja, não podemos viver de acordo com nossas próprias leis. A condição moral da humanidade é de heteronomia: vivemos sujeitos à lei de outrem. A forma específica da heteronomia sob a qual vivemos é a teonomia1, ou seja, lei de Deus.

1Teonomia: Theos [Deus] + nomos [lei; regra]


FONTE:  SPROUL, R. C. Verdades essenciais da fé cristã: doutrinas básicas em linguagem simples e prática. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. 3 v.