terça-feira, 28 de maio de 2013

O tríplice uso da lei


Todo cristão enfrenta a pergunta: “Como as leis do Antigo Testamento se aplicam à minha vida?”. As leis do Antigo Testamento são irrelevantes para o cristão, ou existe algum aspecto em que ainda estamos presos a porções delas? Como a heresia do antinomianismo1 tem sido cada vez mais penetrante em nossa cultura, a necessidade de se responderem essas questões torna-se cada vez mais urgente.
A Reforma se fundamentou na graça e não na lei. Mesmo assim, a Lei de Deus não foi repudiada pelos reformadores. João Calvino, por exemplo, escreveu o que ficou conhecido como “O tríplice uso da lei”, para mostrar a importância da lei na vida cristã.
O primeiro propósito da lei é ser ela um espelho. Por um lado, a lei de Deus reflete a perfeita justiça de Deus. A lei nos diz muito sobre quem é Deus. Talvez o mais importante seja que a lei revela a pecaminosidade humana. Agostinho escreveu: “A lei ordena que, depois de tentarmos fazer o que foi ordenado e sentirmos nossa fraqueza debaixo da lei, aprendamos a implorar a ajuda da graça”. A lei revela nossa fraqueza para que busquemos a força que se encontra em Cristo. Neste aspecto a lei funciona como um severo inspetor escolar que nos conduz a Cristo.
O segundo aspecto da lei é restringir o mal. A lei, em si e por si mesma não pode mudar o coração humano. Ela pode, entretanto, proteger o justo do injusto. Calvino diz que este propósito, “por meio de suas temíveis ameaças e o consequente medo da punição, a lei restringe aqueles que, se não forem forçados, não levam em conta a retidão e a justiça”. A lei permite que haja um mínimo de justiça na terra, até que o juízo final se concretize.
O terceiro propósito da lei é revelar o que agrada a Deus. Como filhos de Deus nascidos de novo, a lei nos ilumina quanto ao que agrada ao Pai, a quem buscamos servir. O cristão tem prazer na lei da mesma forma que Deus se deleita nela. Jesus disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14.15). Esta é a função mais importante da lei: servir como instrumento para que o povo de Deus lhe dê honra e glória.
Ao estudar ou meditar na lei de Deus, estamos frequentando a escola da justiça. Aprendemos o que agrada a Deus e o que o ofende. A lei moral que Deus revela nas Escrituras nos é sempre obrigatória. Nossa redenção é da maldição da lei e não da obrigação de obedecê-la. Somos justificados não devido à nossa obediência à lei, mas para que possamos nos tornar obedientes à lei de Deus. Amar a Cristo é guardar seus mandamentos. Amar a Deus é obedecer sua lei.

SUMÁRIO
1. Atualmente a igreja tem sido invadida pelo antinomianismo, o qual enfraquece, rejeita ou distorce a lei de Deus.
2. A lei de Deus reflete sua santidade e nossa injustiça. Serve para nos revelar a necessidade que temos de um salvador.
3. A lei de Deus restringe o pecado.
4. A lei de Deus revela o que o agrada e o ofende.
5. O cristão deve amar a lei do Senhor e obedecer suas leis morais.

Para discussão e avaliação
1. Por que a lei é concebida como sendo um espelho da perfeição e retidão de Deus?
2. Por mais limitado que seja, como pode a lei servir para inibir o mal?
3. Como a lei serve para mostrar o que é agradável a Deus?
4. Que lição podemos tirar da seriedade com que Deus tratava as pessoas (com morte, muitas vezes) pelo simples fato de tocarem em coisas que eram sagradas?


1anti”: contra + “nomos”: leis. Antinomianismo significa "oposição à lei"; conceitos antinomianos são os que negam que a lei de Deus, nas Escrituras, deve controlar diretamente a vida dos cristãos. 


Fonte: SPROUL, R. C. Verdades essenciais da fé cristã: doutrinas básicas em linguagem simples e prática. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. 3 v.

0 comentários:

Postar um comentário